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26 de dez. de 2010

OS EDUCADORES






Da direita para a esquerda: Isnar, Shirley e Tunico.

Obs.: Shirley é neta de Raquel Pereira Carneiro (filha de Eloísa e Miguel).

Esta foto foi tirada em Belo Horizonte, no ano de 2006, quando Shirley era estudante de Odontologia.


Esta página é dedicada a dois educadores tanque-novenses, que se destacaram e ainda atuam na Grande BH (Belo Horizonte, Minas Gerais). Ambos fizeram o curso fundamental (antigo curso primário) com a Professora Raquel: Isnar Marcil Carneiro e Teotônio Marques Filho (Tunico).


Eles são primos entre si e bisnetos de Juvêncio Alves Carneiro, um dos fundadores de Tanque Novo. A mãe de Isnar, Celina Carneiro era filha de Antônio Alves Carneiro; e a mãe de Tunico, Deolinda Carneiro era filha de Joaquim Alves Carneiro. Seus pais, Moisés Marques Silva e Teotônio Marques Silva eram irmãos.


Veja a autobiografia do professor Isnar Marcil Carneiro:


Um Pouco de Mim Mesmo
Isnar Marcil Carneiro

Sou do interior da Bahia, região da Chapada Diamantina. Sempre ligado à família numerosa e às chuvas, escassas naquela parte do Brasil. A ligação à família, às chuvas, às vacas, às cabras, aos peixes e às abelhas marcaram a minha infância e o resto da minha vida.
A professora primária, Raquel Pereira, com sua sabedoria, simplicidade e dedicação, conseguiu aprofundar estas marcas e, praticamente, indicar o rumo a seguir. Este rumo, não tenho dúvida, foi traçado por Moisés, Celina, Raquel, Tamboril e Tanque Novo.
Fui levado para o Seminário quando tinha quinze anos, e, com vinte e dois, ganhei uma bolsa para estudar Filosofia nos Estados Unidos. Lá fiquei durante oito anos, numa das áreas mais desenvolvidas do mundo. Marcou ainda mais a minha vida. Tudo muito diferente de “Tanque Novo” na Bahia. Terminei o curso de Filosofia numa Universidade dirigida pelos franciscanos e o curso de teologia, também dirigido por eles. Saí do Seminário e fui fazer um curso para mestrado numa universidade católica de New Jersey. Terminado, voltei para o Brasil e meus pais e irmãos haviam se mudado para Betim. Para cá eu vim e comecei o processo de revalidação dos meus cursos, quase que mais difícil que a conquista dos mesmos.
Fundei a primeira escola de inglês de Betim, Centro Cultural que se tornou famoso na época, tornando-me conhecido na cidade como o professor que usava música, teatro e filme na sala de aula, como professor de inglês no ICBEU e de ensino religioso para o curso de magistério do Colégio Estadual. Tornei-me conhecido ainda pelas lutas em favor do meio ambiente e pela participação nos movimentos de esquerda junto com os padres franciscanos e o grupo que iniciou o Partido dos Trabalhadores na cidade.
Em 1993, com a vitória da professora Maria do Carmo Lara, após quase vinte anos de luta, dediquei, de corpo e alma, à Secretaria Municipal de Educação e iniciei, junto com um grupo de excluídos sociais, a oficina Escola Rosalino Felipe. Acolhemos centenas de jovens em situação de risco e reformamos e fabricamos mais de noventa mil peças de móveis escolares. Usamos um sistema moderno de gerenciamento, associado aos princípios do amor e da paz, como meio para re-socializarmos os jovens em situação de risco. A oficina ficou conhecida nacionalmente e recebeu diversos prêmios sendo reconhecida pela Fundação Getúlio Vargas, pela Fundação Abrinq e pelo Programa “Ação e Cidadania Contra a Fome e a Miséria”, do Betinho, como um dos melhores projetos brasileiros em favor dos marginalizados. Além dos benefícios sociais com suas oficinas de música, informática, solda, marcenaria, alvenaria e culinária, ela economizou cerca de dois milhões de reais para os cofres públicos. O povo tem demandado mais Oficinas Escolas em cada bairro de Betim, através do orçamento participativo e os políticos prometem assim fazer.
Em trinta e um de dezembro de dois mil, entregamos o governo municipal ao Carlaile e seus apoiadores do PSDB.
Nos períodos dos governos Maria do Carmo e Jesus Lima, trabalhei em parceria com o Programa de Alfabetização de Adultos, a Bolsa Escola, o Centro de Apoio aos portadores de deficiências auditivas e visuais, a Escola de Paise, a Escola Democrática. A minha participação, em 1995, na segunda missão aos Estados Unidos promovida pela Fundação Christiano Ottoni e Ministério da Ciência e Tecnologia, para um curso de vinte e dois dias na Universidade da Pennsylvania sobre Qualidade na Educação, marcaram ainda mais a minha vida.
Fui instrutor de inglês para a diretoria da Ritz Chance do Brasil durante onze anos, (de 1983 a 1994), com quatro aulas por semana. Mudamos muitos dos nossos paradigmas, nesta época, já que as nossas ideologias eram completamente diferentes.
De 2000 a 2005, dei aulas de Filosofia na UNICOR, Universidade de Três Corações, para os cursos de Enfermagem, Nutrição, Educação Física e Normal Superior. Foi uma experiência indescritível. O que mais me marcou foi a amizade que fiz com os alunos. Em 2006-07, fui professor, também de Filosofia, para as turmas de Direito do Instituto Superior J.Andrade.
Em 2009, com a vitória da Maria do Carmo para Prefeita de Betim, retornei para a Oficina Escola como Diretor e assessor do Secretário de Educação.
Nestes dois anos, 2009 e 2010, na Oficina Escola, acolhemos mais de 300 jovens em situação de risco, fabricamos quase 25 mil móveis escolares e centenas de brinquedos pedagógicos, juntamos sucata de computadores e as aproveitamos nas aulas de manutenção e montagem e depois doamos as máquinas prontas para os alunos carentes. Algumas de nossas Oficinas foram levadas até os idosos nos asilos da cidade. Conseguimos padrinhos e madrinhas para 65 meninos e meninas carentes. No dia da conclusão do curso Manutenção e Montagem, entregamos 25 computadores e, no almoço, oferecido aos padrinhos e apadrinhados, a nossa banda sinfônica e o nosso coral, compostos pelos meninos e meninas, pelos nossos marceneiros e serralheiros e outros instrutores, brilharam. Foram aplaudidos longamente e divulgados em páginas inteiras pela imprensa.
Sempre tive consciência do pouco que sabia e do quanto ainda tinha que aprender. Por isso, participei de centenas de cursos, congressos, seminários e palestras, e, quanto mais o fiz, mais percebi esta verdade.
Proferi dezenas de palestras em diversos setores sobre as colunas que sustentam as instituições e as que sustentam os seres humanos e sobre o sucesso, a leveza e a inteligência emocional. As avaliações, muito positivas, me estimularam ainda mais e foram, para mim, uma grande oportunidade de aprendizagem.


Veja a autobiografia do professor Teotônio Marques Filho:


Agonia e Êxtase
Teotônio Marques Filho

Vim ao mundo em 1947, época em que Tanque Novo era bem diferente do de hoje: um Tanque Novo bucólico, sem luz elétrica nem asfalto, de terra batida e matagal na praça, onde o gado pastava e lambia sal à noite, nas calçadas. Um Tanque Novo de céu salpicado de estrelas, ofuscadas somente pelo brilho da lua cheia... Um Tanque Novo de fogueiras de São João, com foguetórios, busca-pés e bombõezinhos que faziam latas subir pelos ares... Um Tanque Novo de novenas e leilões que culminavam com a festa da Padroeira no mês de maio...
Se não há dúvida quanto à minha origem tanque-novense, existe alguma confusão com relação à data do meu nascimento. Conforme minha mãe, sou de 21 de janeiro, mas o que consta na certidão é 5 de maio, o que me confere dois aniversários (portanto, já estou próximo dos 130 anos...).
Só tomei conhecimento desse fato muito tempo depois (nos anos 60, já com quase 15 anos ou 30...), quando fui estudar em Caetité para fazer o curso de admissão no Instituto de Educação Anísio Teixeira (IEAT). Acabei indo para o Seminário São José (onde já estudava o meu primo Isnar, que, literalmente, me aliciou para o sacerdócio). Nem ele nem eu viramos padre... Quer dizer viramos: tornamo-nos educadores.
Foi nessa época também que descobri que meu nome era Teotônio (e não Tunico, como todos me chamavam). Teotônio, em Tanque Novo, era meu pai (Teotônio Marques da Silva), que encarava, destemido, bandos de ciganos e chegou a passar um corretivo no Trem-de-Risco (acho que do bando de Lampião, que se escafedeu de Tanque Novo para sempre...). Um cabo-duro arretado, pai de muitos filhos, que desafiava a sudegada udenista tanque-novense (entre eles o saudoso tio Moisés, genitor do primo Isnar...).
No início da minha escolaridade, eu não conseguia aprender a ler. Um cavalão já bem grandinho e empacado... Uma vergonha! Tia Raquel e tio Doutor (que a ajudava a tomar a lição da meninada) tiveram que ter muita paciência comigo. Até que um dia, como que por encanto, comecei a ler tudo que me caía nas mãos: Lili, Lalau, Lobo-Bom, Pascoalzinho... Começava aí minha intensa convivência com os livros.
Foi por insistência da tia Raquel (e também da professora Idalina, que a substituiu durante algum tempo) que prossegui nos estudos (meu pai achava que a escolinha da tia Afessora tava de bom tamanho). Sempre muito tímido, lembro-me que chorei um dia inteiro no dia de partir para a distante Caetité... Era de partir o coração: eu com aqueles soluços pungentes, grudado na barra da saia de minha mãe, sem querer partir...
Depois, fui desaparecendo, mineiramente, de Tanque Novo (e aqui entra outro aliciador na minha vida: meu irmão Florivaldo – o Fulor –, um dos mais brilhantes alunos do IEAT, que já tinha feito contatos para estudar em Belo Horizonte). Em janeiro de 1966, vim com ele para a capital mineira, onde fiz o curso clássico (segundo grau) e faculdade de letras na UFMG, com habilitação em português e literatura (brasileira e portuguesa). Fulor acabou desistindo, e eu prossegui sozinho o meu caminho. Depois, vieram o primo Ilvete (que desistiu), o primo Célio, o meu irmão Milton...
(E os amores tanque-novenses, caetiteenses, não os há? Suspiros ao anoitecer, espreitados pela lua cheia, encapados pela timidez e pela batina negra de seminarista...)
Em Belo Horizonte, de onde jamais me mudei, desenvolvi toda a minha carreira como professor de língua e literatura e, mais tarde, como revisor e elaborador de textos, em diversas instituições de BH (inclusive na Assembleia Legislativa de Minas), conforme consta no currículo anexo.
Elaborei muito material didático, em especial para cursos pré-vestibulares. Acho que escrevi mais de 50 livros... Elaborei muitos discursos também (uns 200 a 300) para deputados e outros, quando trabalhei na Assembleia e num centro universitário de Belo Horizonte – o Uni-BH.
Apesar da minha timidez (ou talvez por isso), sempre fui muito dedicado e esforçado em tudo o que fiz e, com a ajuda de Deus, obtive algum sucesso profissional. Uma característica marcante na minha vida: não desistir diante dos obstáculos e fazer tudo com determinação, com vibração, com entusiasmo, com alma. Muitas vezes, com choro, superando minhas limitações. Uma lenta agonia que sempre redundou em êxtase. Agonia e êxtase – eis a síntese da minha trajetória profissional e existencial!
Bem na linha do sentido próprio da educação (educar vem do latim “ex + ducere”, que significa “puxar para fora”), sempre tentei contagiar os alunos nas minhas aulas e palestras, procurando entusiasmá-los sobre a matéria lecionada. Sempre procurava dar o fio da miada, ensinar a pescar. (É triste ficar dando o peixe a vida toda, não? Sem dúvida, a Bolsa Família se reveste de muita importância, mas só devia valer para uma fase inicial. Bem que poderia ter ficado Bolsa Escola, com um sentido educacional, como foi idealizada pela dona Ruth Cardoso).
Hoje, já aposentado, continuo trabalhando como “free-lancer” e procuro ajudar, na minha área de atuação, as pessoas que me procuram. Mas não perdi minha velha mania de professor: ensinar a pescar para que cada um tenha a oportunidade de crescer por conta própria e fisgar o seu peixe. Nada de ficar acomodado, à espera de milagres. Deus só faz milagres quando colaboramos com Ele...
Estou radicado há quase meio século em Belo Horizonte, onde constituí família: sou casado com Rosângela (uma morena cor de jambo, quase cana-caiana...) e temos três filhos, já adultos (Rodrigo, Daniel e Diana). Assim, hoje, sou quase mineiro, mesmo porque sempre tive uma natureza meio arredia, reservada – característica típica da gente das Alterosas. Contudo, nunca esqueci minha terrinha – meu torrão natal, minhas raízes. Confesso que, ainda que um pouco desligado do meu torrão natal, tenho um carinho enorme por Tanque Novo, que vive nas minhas entranhas.
(E os amores mineiros de belos horizontes? Com certeza, vão muito além dos umbrais da cor de jambo, quase cana-caiana... Uma busca incessante, na direção do azul infindo das dimensões etéreas...).
Hoje, mais de meio século depois, fecho os olhos e vejo pelo retrovisor do tempo: Tanque Novo de águas limpas (cristalinas), meu pai, minha mãe, meus irmãos, primos, tios... Vejo, sobretudo, uma professora pequenininha (ela, sim, uma autêntica educadora), em meio a meninos e meninas de todos os tamanhos. Uma pérola negra que jaz no fundo das águas do coração. Uma pessoa que tem a cara de “Irene no Céu”, do poeta Manuel Bandeira:
Irene preta,
Irene boa,
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco.
E São Pedro bonachão:
- Pode entrar, Irene, você não precisa pedir licença...


Clique no link abaixo, e veja o currículo do professor Teotônio Marques Filho:


Neste blog, há dois textos produzidos pelo professor Teotônio Marques Filho (Tunico):


_ À Tia Raquel, Sempre



P/S: Aproveitando o espaço, lembramos que colocamos no final da página Escola Normal de Caetité, alguns links sobre Anísio Teixeira, um dos maiores educadores do Brasil, que nasceu em Caetité , Bahia, cidade onde estudaram, também, Isnar Marcil Carneiro e Teotônio Marques Filho. Anísio Teixeira foi o idealizador da Escola Parque, em Salvador, Bahia, que serviu de modelo para os atuais CIECs, CIAPs e CEUs. Veja duas de suas frases sobre Educação:

" Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é assim, vida no sentido mais autêntico da palavra."

"Corajoso, puro, humilde e fiel. Eis as grandes qualidades do mestre, as que o farão verdadeiro educador."

Veja, também, biografias sobre alguns ex-professores da Escola Normal: