Cordel da professora Márcia Haidê de Caetité, baseado nas histórias de Eloísa. Márcia é membro da Academia Caetiteense de Letras.
O São João da Menina Elô
Das lembranças que trago
a primeira é a da mãe querida,
Ilustre professora Raquel,
que jamais será esquecida,
pois, ela muito se lembrava
e, emocionada, narrava
esse capítulo de minha vida.
O São João de Tanque Novo
sempre foi muito animado.
Em cada rua, em cada roça,
por todos comemorado.
Em tempos de pandemia
Sem nossa maior alegria
o jeito é voltar ao passado.
Lembro que em 1974
chegou aqui um contador,
sujeito muito simpático,
com fama de galanteador.
Estava recém-formado
e vindo de Brumado
esse nobre conquistador.
Junto com Élio Marques
Figurão deste lugar,
Valdo de Zenaide e Benévolo
outras pérolas que devo citar,
o tal cabra arretado,
o famoso Gilberto Dourado,
Resolveu reinventar.
Foi fundada uma cabana
inspirada nas coisas da roça.
A tal Tonga da Mironga
era toda feita de choça.
Mas, mesmo sendo singelo
ficou bom e muito belo
nosso clube de palhoça.
Eu, que era ainda menina,
não podia ainda entrar,
pois, o perigo, na época,
era o Bráulio se enfezar
e terminar as pancadarias
junto à casa do tio Azarias,
fazendo a festa acabar.
Nesse tempo de menina
Eu andava rindo à toa.
Lembro bem dos preparativos
desta festa muito boa.
Só uma coisa eu não gostava!
O que muito me torturava
era a matança da leitoa.
A grande atração da festa,
disto me lembro bem,
era o Velhinho da Fogueira
que tocava como ninguém.
O sanfoneiro dava o tom
e a gente curtia o som.
Dançando num vaivém.
Outra coisa que não esqueço
é aquela superstição
que tinha no dia seguinte,
dia santo de São João.
Usando a coroa de são caetano
a gente se benzia todo ano!
Era parte da tradição.
Outra coisa interessante
que gosto de recordar
era aquela superstição
para o nome do amado achar.
Que gostosa brincadeira!
Os papeizinhos na fogueira
para um nome revelar.
Mas, quando fiquei mocinha,
com meus vestidinhos de chita,
saía toda emperiquitada,
com a roupa nova e bonita;
e caía na festança
onde tinha a comilança,
a quadrilha e o pau-de-fitas.
Êta tempinho bom!
Guardado no coração.
Rolava tanta paquera!
A gente tomava o quentão.
E antes da fogueira apagar
a batata tinha que assar
pra completar a diversão.
Nossa festa também tinha
outra singularidade:
era o caminhão da folia,
com sua excentricidade
Tião de Dorinha o criou
e pelas ruas circulou
carregando a felicidade.
As quermesses eram lindas!
Havia maior devoção.
Até nas festas escolares
maior era a animação!
Pois havia uniformidade,
muito mais fraternidade,
e muito mais São João.
Não que agora seja ruim.
Mas, o tempo é curto e voa!
Carregando certos costumes,
certos detalhes e certas pessoas.
E em mim bate a saudade
daquela felicidade
daquela festa tão boa.
Essa é a história de Eloísa
Filha de Arlindo e Raquel,
mãe de três lindas meninas,
a esposa de seu Miguel.
Que relata com emoção
como era seu São João
nas rimas deste cordel.
Por: Márcia Haidê,
Junho/2020
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