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21 de abr. de 2009

CARTA SAUDOSISTA DE NEUZA MARCIL


Professora Dona Raquel:


Sei que a senhora já se foi para junto de Deus, como tantas pessoas queridas, e que lá se juntaram aos santos e santas, no céu.

Quero demonstrar aqui, através de poucas linhas, todo meu carinho e amor sincero que sempre tive pela senhora e sei que a senhora sabia e sabe disso. E quero revelar a todos, principalmente aos seus filhos, gerados também, na fé e no amor do seu coração.

Agradeço a Deus que um dia a enviou para mim, tão jovem, sábia e tão bela, tão humana e especial, porque Deus sabia, nos seus desígnios, que Tanque Novo precisava de alguém para iluminar, ensinar e ser luz para tantas pessoas. Eu tive sorte de ser uma dessas pessoas. Minha mãe me falou, também, que a senhora lhe ajudou nos momentos difíceis, sendo muito boa para ela.

Lembro-me, como se fosse hoje, do meu primeiro dia de aula. Meu papai me arrumou, me vestiu a farda, me deu a cartilha do ABC e falou: “Vai para a escola!” E eu fui correndo. Lá, encontrei-me com Zezé de Seu Raul, que era um pouco maior do que eu. Dona Raquel, nossa “Fessora”, me acolheu e me ensinou... Logo, passei à frente de algumas colegas...

Era muito difícil sair para estudar em outras cidades como Paramirim, Macaúbas ou Caetité... Chorei muito. Mas, fui me acostumando com a saudade, que era terrível. Queria mesmo era que minha vida continuasse sempre em Tanque Novo, contando com pessoas como Seu Doutô, Maria, Raquelinda, etc.

Recordo ainda que Dona Raquel, um dia, me tocou na cabeça e me perguntou: “Quantos anos você tem?” Respondi que tinha onze anos. Ela sorriu e me abraçou.

De vez em quando, eu fugia da sala de aula e ia beber água, andar pelo quintal, olhar a casa, as fotos que até hoje existem naquelas paredes...

Achava tudo lindo e ficava morrendo de vontade de comer aquela comida, que exalava um cheiro muito agradável...

São ótimas e doces lembranças de pessoas inesquecíveis.

Hoje, graças a Deus, sou feliz e construí minha família, também. Meu marido Edgar e nossos filhos Luciano, Luciana, Luzia, Edgarzinho e Ludmila sabem das histórias simples de Tanque Novo, e das pessoas maravilhosas que fizeram parte da minha vida, servindo de exemplos para cada um de nós.

Querida “Fessora”, jamais me esquecerei da senhora!

Perdoem-me se não fui tão atenciosa como o meu papai, indo mais frequentemente, aí. Mas, tenham certeza que guardo no coração, cada um de vocês, e também, as boas recordações.

Esses rabiscos saíram do fundo do meu coração. Que Deus abençoe todos os filhos e entes queridos de Dona Raquel!

Saudades minhas e dos meus familiares.

Neuza Marcil

Betim, 09/04/2009

Foto de Neuza Marcil e Maria Carneiro das Graças - 1963

Obs.: Nessa época, elas viviam sob regime de internato, no Colégio das Freiras, em Caetité-Bahia