Sitemeter

30 de out. de 2010

CORDEL PARA RAQUEL









Contra-capa e capa do Cordel - dê um clique para ampliação!

A primeira foto da contra-capa é de 1965.
O menino que aparece ao lado da professora, é o seu filho Aparecido. Estava com cinco anos de idade, calça curta de suspensório, sem camisa, descalço, e com as pernas cinzentas de tanto brincar na areia.
Todos os outros estão identificados na página "Última turma lecionada pela professora Raquel".

A outra foto da contra-capa é da Praça da Igreja de Tanque Novo, no início da década de 1960.

Na capa, duas fotos: a primeira é da formatura, quando Raquel tinha dezesseis anos incompletos; e a segunda, aos dezoito anos, quando a mesma tirava seus documentos pessoais.


Este cordel, baseado na biografia da professora Raquel Pereira Carneiro, foi apresentado na abertura da 12ª Feira de Educação, Arte e Cultura do IEAT (Instituto de Educação Anísio Teixeira), em Caetité- Bahia, no dia 29/10/2010. Estiveram presentes, dois filhos de D. Raquel: Aparecido e Eloísa. Eles teceram alguns comentários sobre sua mãe e agradeceram por esta homenagem, aliás, a segunda dedicada a Raquel Pereira Carneiro, em Caetité, após sua morte. A primeira foi um trabalho realizado na faculdade da UNEB, em 2009. Veja, em arquivos do blog - novembro/2009, o tema e o vídeo exibidos. Uma honra muito grande para os descendentes dessa saudosa professora.
Segundo Aurélio (dicionarista), literatura de cordel é um romanceiro popular nordestino, em grande parte contido em folhetos pobremente impressos e expostos à venda, pendurados em cordel, nas feiras de mercados; daí a origem do nome.
O cordel é composto por 22 setilhas, ou seja, 22 estrofes com sete versos cada uma.
Confira:


Raquel Professorinha


I

Olá, classe estudantil!


É com muita satisfação,


Aproveito a oportunidade,


Para esta apresentação.


Vou falar de uma pessoa:


Raquel Professorinha,


Marco da educação.



II


Raquel Pereira de Andrade


Nasceu na fazenda Pintada.


Todos que a conheceram,


Sabem que era muito educada.


Passou a morar em Caetité,


Com sua tia Silvéria Maria Fagundes;


Aos quatro anos foi adotada.

III


Sobre sua história,


Eu ainda vou contar aqui.


Filha de Renato Pereira de Andrade


E Leonor Fagundes Cotrim.


Morava perto da Vila Gentio,


Hoje Ceraíma,


Município de Guanambi.


IV


Menina muito ativa,


Inteligente e dedicada,


Um ano antes de se formar,


Para um estágio, foi convocada.


Na comunidade de Juazeiro, cidade de Caetité,


Na residência do Sr. Antônio Tintino,


Por dois meses ficou hospedada.


V


Raquel Professorinha,


Como era conhecida,


Ao saber da educação,


Dedicou sua vida.


Sendo nomeada pelo Estado,


Para trabalhar em Tanque Novo,


Onde foi muito querida.


VI


Dois guarda-fios de Caetité,


E por sua tia Silvéria, foi acompanhada.


Chegando a Tanque Novo,


Ela foi bem tratada.


Logo nos primeiros dias,


Na casa do Sr Teotônio Marques da Silva,


Com imenso carinho, foi recepcionada.


VII


A primeira sala de aula,


Foi cedida por Dãozinho.


Matricularam trinta alunos,


Que pareciam seus irmãozinhos.


Na faixa etária de sete aos dezesseis anos.


No recreio, estava disposta a brincar,


Pois, eram todos novinhos.


VIII


Apesar de sua pouca idade,


Sabia como agir.


Aqueles que se rebelavam,


Estava disposta a punir.


Colocava-os de castigo;


Pois, tinha maturidade e coragem,


E uma missão a cumprir.


IX


O tempo passou.


Alunos do primeiro ao quinto ano,


Na mesma sala, foram integrados.


As matérias básicas eram por todos, estudadas.


Gramática, Aritmética,


História, Geografia e Ciências;


Ensinava também, artesanato e bordado.


X

Visitas periódicas de inspetores escolares,


Eram feitas nessa ocasião.


Chegavam de repente, sem qualquer aviso prévio,


Para, do ensino fazer, uma avaliação.


Ela não se preocupava,


Pois, contava com excelentes alunos;


Os quais, zelava com emoção.


XI


Raquel Pereira costumava passar suas férias,


Até mesmo os feriados,


Em Igaporã, antigo Bonito.


Ou melhor, um povoado.


No dia 7 de setembro de 1935,


Para morar com ela e sua tia Silvéria,


Seus primos foram convidados.


XII


Justiniano Pereira de Sousa


Atendeu o solicitado.


Tinha apenas quatro anos;


Foi criado e educado


Pela professora Raquel e tia Silvéria;


Que lhe deram muito carinho,


E pelas duas foi muito amado.


XIII

Alguns anos depois,


Em 1943, essa professora se casou


Com Arlindo Alves Carneiro;


Era comerciante e agricultor.


Dava-lhe apoio na escola.


Raquel Pereira Carneiro,


Assim a chamou.


XIV

Desse casamento, nasceram oito filhos:


As flores do jardim.


Sendo seis vivos;


Os outros dois tiveram fim.


Que com poucos meses de vida,


Vieram a falecer.


Os chamados: Zélia e Joaquim.


XV


Além de ser professora,


O catecismo ensinava.


Sobre os hinos religiosos,


A mocidade estava informada.


Na coroação de Nossa Senhora,


Seus alunos


Eram orientados.


XVI

Com o leilão da primeira noite de novena,


Em louvor ao Coração de Maria,


Por ser de boa índole,


Ela contribuía.


Costurar roupas, bordar enxovais de noivas,


Tocar bandolim e realizar trabalhos domésticos,


Nada em troca queria.


XVII


Por sua imensa capacidade,


De muitos momentos solenes participou.


O Posto dos Correios e a feira livre,


Foi ela quem os criou.


Com a ajuda do seu marido Arlindo,


Que escolheu terça-feira,


O dia em que a feira de Tanque Novo realizou.


XVIII


Foram 32 anos de magistério,


Porém, com saldo positivo.


Além da confiança,


Conquistou muitos amigos.


Pois, todos se tornaram pessoas importantes.


E agradeciam-na


Pelo sucesso garantido.


XIX


Sempre foi grata aos professores,


O futuro da nação.


Também, a algumas pessoas de Caetité,


Que colaboraram com sua educação.


Lugar de muitas riquezas,


Terra de Anísio Teixeira,


Berço da educação.


XX


Minha bela Caetité,


Princesinha do Sertão,


É um exemplo a toda nação.


Por ti bate forte o meu coração.


Fonte de muitos mistérios,


Salve o magistério,


A base de uma bela educação!


XXI

Caetité é o meu município,


Vargem do Anguá é o meu lugar.


Os professores são nossos amigos;


Sempre estão a nos ensinar.


Estou morando em Caetité,


Fazendo Normal Médio,


Para, em uma educadora, me transformar.


XXII


Termino este cordel, parabenizando o IEAT


Pelos alunos competentes.


A qualidade da educação


É muito surpreendente.


Inspirem-se em Raquel Professorinha;


Valorizem o magistério,


Os que virão futuramente.



Autoria de Ionali Almeida Silva


Aluna do 3º Normal Médio B



Clique, abaixo, e veja texto e poesias sobre a Escola Normal de Caetité e, também, alguns links sobre Anísio Teixeira:

Escola Normal de Caetité


5 de out. de 2010

HISTÓRICO DO ALECRIM DE TANQUE NOVO



A história do Alecrim tem uma relação intrínseca com a história de Tanque Novo. Isso, porque Juvêncio Alves Carneiro, um dos compradores da Fazenda dos Furados, que deu origem a Tanque Novo, preferiu morar nessa comunidade. Contudo, vários dos seus filhos, netos e bisnetos contribuíram bastante, com o desenvolvimento de Tanque Novo.
A professora Raquel Pereira Carneiro manteve várias amizades com os moradores desse lugar. E, como sinal de respeito, admiração, amor e carinho com o povo dessa comunidade, costumava cantar a seguinte canção:




Alecrim

Alecrim, alecrim dourado

Que nasceu no campo
sem ser semeado. (Bis)


Oh! Meu amor,
Quem te disse assim,
Que a flor do campo
é o alecrim.(Bis)

Alecrim, alecrim aos molhos,
Por causa de ti
choram os meus olhos. (Bis)

Alecrim do meu coração,
Que nasceu no campo
Com essa canção. (Bis)





Vejam alguns dos ex-moradores do Alecrim que eram amigos da professora Raquel e, por sinal, quase todos parentes do seu marido Arlindo Alves Carneiro:




1ª foto: Tia Bilinha e tio Zeferino Magalhães
2ª foto: sentados da direita para a esquerda: tia Bilinha, tio Zeferino, Zé Dorico, Belarmina e Zeca Magalhães. Em pé, da esquerda para a direita: Tio Belo, Arlinda (filha do primeiro casamento de Zeferino Magalhães) e tia Maria (ainda solteira) que se casaria posteriormente, com tio João Cardoso.


1ª foto: Tia Francisca e tio Manoel Ferreira
2ª foto: Tia Arlinda e tio Benvindo Lessa



1ª foto: Seu Zeca Magalhães e D. Bela
2ª foto: Seu Venício e D. Dalcy



1ª foto: Tia Maria e tio João Cardoso
2ª foto: Tia Noeme, D. Celsina e Seu Juvêncio, ao lado da imagem de Coração de Maria.




1ª foto: João Cardoso (solteiro)
2ª foto: Tia Maria e tio Prudenciano




1ª foto: Tio Prudenciano e tia Noeme
2ª foto: Anália e Dalva (netas do tio Cazuza).
Obs.: Ambas foram alunas da professora Raquel; porém, só Anália que morou no Alecrim, pois, foi a segunda esposa de Petrônio Magalhães Carneiro.





1ª foto: D. Celsina e Seu Juvêncio
2ª foto: casa onde D. Celsina e Seu Juvêncio moraram, no Alecrim. Desenho feito por Fábio Magalhães.



O texto a seguir é um trabalho cedido gentilmente, por Fernando Carneiro, e faz parte de sua dissertação, no curso de mestrado em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social, na Universidade Católica de Salvador, Bahia.

Fernando Carneiro é filho de Juraci Magalhães Carneiro e Maria das Dores Magalhães Carneiro (primos); neto de Zeca Magalhães e Belarmina (Bela), Venício Magalhães e Dalcy; bisneto de Cazuza e Afra; bisneto, duas vezes, de Zeferino Magalhães (explicação: Zeca Magalhães é filho do primeiro casamento de Zeferino; e Venício é filho do segundo casamento de Zeferino com Bilinha); trineto, duas vezes, de Prudenciano Alves Carneiro, um dos fundadores de Tanque Novo. Digo duas vezes trineto, porque Cazuza e Bilinha eram irmãos.

É um documentário muito valioso, com pesquisas realizadas em cartórios da região. Além disso, fala sobre a fauna da região e os costumes do lugar. As brincadeiras das crianças, por exemplo, reportam-nos aos anos 60 e aos anos 70.


Alecrim

Alecrim, comunidade composta pelas localidades João Vaqueiro ou Alecrim Velho, Vereda do Alecrim ou Vereda do Duquinha, Alecrim I, Alecrim II ou Alecrim dos Ferreiras e Bandeira, reúne vários elementos que compõem a dinâmica da organização espacial de Tanque Novo, em termos de delimitação formal, delimitação sócio-histórica e interpretação social da vida cotidiana. Desse modo, é possível falar em uma comunidade Alecrim de Tanque Novo, mesmo que localidades como Alecrim I e II, pertençam atualmente ao município de Paramirim, pois estão integradas cotidianamente, às demais localidades que compõem a comunidade Alecrim.

A localidade Alecrim I, referida pelos moradores como aquela que mantém os laços históricos do lugar, fica na região leste de Tanque Novo, a 5 km da sede do município. Alecrim I tem como vizinhas as localidades de Alecrim II (ao norte), Bandeira (sudoeste), Pé do Morro II (leste) e também a comunidade Dourados (sudeste). O limite legal entre os municípios de Tanque Novo e Paramirim, que se baseia no divisor de águas, nesta região, divide a comunidade Alecrim e deixa a maior parte da mesma na área legal do município de Paramirim. No entanto, como veremos, a história da comunidade está diretamente ligada à formação do município de Tanque Novo.

Segundo os moradores, o nome da comunidade se deve à planta conhecida por Alecrim de Cabra, que existia em abundância na região, e a comunidade teria se iniciado com a chegada do senhor Juvêncio Alves Carneiro. Observamos durante a pesquisa que o nome da comunidade está relacionado à fazenda Alecrins, o que não contradiz a relação com a planta Alecrim, porém, como demonstrado a seguir, o senhor Juvêncio não foi o fundador da mesma.

A partir do registro 185, do nascimento do filho do senhor Juvêncio, Antônio Alves Carneiro, verifica-se que no ano 1890 ele morava em outra localidade chamada Lagoa da Pedra com sua primeira esposa:

compareceu Juvêncio Alves Carneiro, lavrador, natural de Cannabrava, para registrar o filho dele e de Dona Arlinda Francisca Gomes, natural de Macaúbas, nascido no dia 15/06/1890, Antônio Alves Carneiro [...] avôs paternos: José Joaquim Carneiro e Clemencia Maria de Jesus [...] avôs maternos: Umbelino José Gomes e Francisca Maria de Jesus, já falecida [...] Casaram-se na casa de José Cardoso Pereira no lugar São José, deste districto e rezide actualmente na Lagoa da Pedra, do termo de Macaúbas (registro n. 185 de 22/06/1890, localizado na p. 70 do livro n.1 de Caldeiras).

Através do historiador Erivaldo Fagundes Neves, comprovamos a existência de Alecrim, ou Alecrins, antes da chegada do senhor Juvêncio, pois ele nos informa sobre duas fazendas, Gameleira e Várzea Redonda, que fazem limite com uma fazenda Alecrins, ou dos Alecrins, e essa teve uma parte declarada no registro de terras da freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Morro do Fogo (1857-1859), no registro 143:

Gameleira – Fazenda na extinta freguesia de Morro do Fogo, entre Canabravinha, Botim, Angical, Alecrins e Várzea Redonda, que no registro paroquial de terras, declararam-se proprietários: Pacífico José das Neves; Manoel Domingues Neves; Manoel José das Neves (compra de Paulo Guerreiro de Castro); Ana Maria do Sacramento (herança dos pais Gonçalo Pereira Dourado e Eugênia Maria da Encarnação); padre José Timóteo da Silva (compra de Venâncio Rodrigues da Silva); Demétrio Ferreira da Silva (compra de Antônio Francisco das Neves e Lizarda Maria de Carvalho); e Bento José de Souza Camelo (compra de Paula Quirina de Castro) (NEVES, 2003, p.357).

Várzea Redonda – Fazenda no atual município de Paramirim, limitada por Mocambo, Canabravinha, Lajedo e Alecrins, que no registro de terras da freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Morro do Fogo, em 1857-1859 declaram propriedades: Bento Ferreira da Silva (herança dos pais Prudêncio Ferreira da Silva e sogra Carlota Maria de Jesus); Bento Joaquim da Silva (Bacamarte, herança do sogro Manoel Ferreira da Silva); Clemência Maria de Jesus (herança dos pais Manoel Ferreira da Silva Gomes e Joana Maria de Jesus); Demétrio Ferreira da Silva (herança dos avós Manoel Ferreira da Silva Gomes e Joana Maria de Jesus); Gonçalo Pereira da Silva (herança dos pais Manoel Pereira da Silva Gomes e Joana Maria de Jesus e compra de Alexandre Ferreira da Silva e sua mulher Francisca Xavier); Manoel Joaquim Ferreira Silva (herança da sogra Maria Roberta de Jesus) (NEVES, 2003, p.422)

Manoel Francisco da Cunha possui nesta Freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Morro do Fogo da Fazenda dos Alecrins huma parte de terra aqual se extrema do nascente com o Tenente Coronel Manoel Joaquim Pereira de Castro e dahi para o norte a extremar com João da Silva Lessa dahi para o poente a extremar com a Fazenda do Morro do Chapeo e dahi pelo cume da serra para o Sul a extremar denovo com o mesmo Tenente Coronel Manoel Joaquim Pereira de Castro onde chega [...]. Canabravinha 10 de junho de 1857. [...] Manoel Francisco da Cunha, Martinho José das Neves (registro 143)

A descrição da fazenda Morro do Chapéu, feita a seguir, mostra-nos que os limites da fazenda dos Alecrins abrangem a atual comunidade Alecrim de Tanque Novo:

Morro do Chapéu – Fazenda nos atuais limites de Paramirim, Caetité e Tanque Novo, da qual se inventariou com os bens de João Moreira de Oliveira em 1852, uma fração comprada de Clemente Marques das Neves e Constância Joaquina da Silva por 50 mil réis, com uma parcela de Morro do Chapéu, uma fração da fazenda Bois, comprada do mesmo casal, 100 mil réis; uma gleba de Noruega, também adquirida do mesmo casal, 20 mil réis; 17 escravos, avaliados por três contos 530 mil réis; nove reses, uma mula e um cavalo, 198 mil réis.

No registro de terras da freguesia de Caetité, medindo duas léguas de comprimento e igual largura, extremando Canabrava, Umbaúba, Vargem do Sal, Canabravinha, fazenda de Baixo, Pindobeiras e Mocambo, declararam propriedades comuns em Morro do Chapéu: Antônio Francisco Duarte (herança), Bento Ferreira da Silva (herança do pai Prudêncio Ferreira da Silva), José Protásio do Bonfim (herança), Manoel Joaquim Ferreira e Silva (herança dos pais Manoel Ferreira da Silva e Joana Maria de Jesus), Manoel Pedro dos Santos (herança dos pais Pedro dos Santos Freitas e Teresa Rodrigues) e outros. No registro da freguesia de Morro do Fogo (1857-1859), estremando com Mocambo, Noruega, Baixa, Cais e Vargem do Sal, declararam títulos: José Gregório Pereira (compra de Efigênia Maria da Conceição); Maria Francisca de Jesus (meação do falecido marido Prudêncio Ferreira da Silva); e Maria Vitória de Jesus (NEVES, 2003, p. 381)

A fazenda Noruega é citada em um registro de nascimento n. 508, de Joaquim, nascido no dia 21/02/1897, filho de Deraldo Marques de Oliveira e Roza Lina de Jesus. Conforme o texto citado na comunidade Pé do Morro II, sabemos que essa pertenceu à família Marques por quase um século.

Juvêncio Alves Carneiro e Arlinda Francisca Gomes, ou Arlinda Gomes de Jesus, segundo o registro de casamento da neta Ermínia, casaram-se em São José, na casa do senhor José Cardoso Pereira. A tradição oral informa que José Joaquim Carneiro, pai de Juvêncio, teria sido abandonado quando criança pelo pai Bento Carneiro e criado por um padrinho da família Cardoso. Como o casamento de Juvêncio aconteceu na casa do senhor José Cardoso Pereira, conforme nos informa o registro, esse deve ter sido provavelmente neto do padrinho que criou José Joaquim Carneiro, como discutiremos no texto sobre a comunidade São José.

José Joaquim Carneiro e Clemência Constância (em alguns registros está Maria em vez de Constância) de Jesus tiveram doze filhos, um deles morreu novo e onze deram continuidade à família. São eles: Prudenciano (1850-1910), Juvêncio (1851-1920), Francisco, Maria, Custódia, Constança, Antônia, Ana Joaquina, Ursulina, Carlota e Exupéria. Desses, os registros e relatos revelam que Juvêncio e Custódia fixaram residência no Alecrim. Sobre os outros escreveremos no texto de Furados. Através do registro de nascimento da filha Constança e de casamento da neta Maria Custódia, filha de Custódia, percebe-se que as mulheres receberam o sobrenome de Jesus, da mãe. Os homens receberam o sobrenome Alves, ao que parece também de origem materna. Os Alves seriam proprietários de terras na região, o que está de acordo com o seguinte trecho, divulgado por Neves:

[...] João Alves da Costa e sua mulher Ana Maria Ribeiro de Novais venderam em 1861, para Cláudio Antônio de Oliveira e seus filhos José Antônio de Oliveira e Antônio Cardoso de Oliveira, uma gleba de Vargens entre Malhada Grande, Furados e Lagoa do Mato, medindo dois mil 169 braças, com currais, mangas, tapagem de tanque e casa de enchimento. (APEB. Judiciário, SRJ/25/17, f. 16v. Escritura, 20 jul., 1861 apud NEVES, 2003, p. 420)

A história oral também nos informa que o local citado no registro como Furados é a atual sede de Tanque Novo. Neves (2003) informa que Umbelino José Gomes, pai de Arlinda Francisca Gomes, comprou em 1875 um terreno na região próxima à atual sede do município de Tanque Novo:

Nesse mesmo ano (1861) Cláudio Antônio de Oliveira e sua mulher Joana Francisca de Jesus venderam metade de Vargens (gleba), com benfeitorias, por dois contos de réis, para José Rodrigues Malheiros [...], (APEB. Judiciário, SRJ/25/17, f. 20v. Escritura, 28 set., 1861 apud NEVES, 2003, p. 420-421 (Grifo meu)).

[...] que negociou, em 1876, Saco dos Furados, por um conto de réis, para Umbelino José Gomes e Joaquim Monteiro de Magalhães. (APEB. Judiciário, SRJ/25/28, f. 17. Escritura, 31 de out., 1875. NEVES, 2003, p. 421)

A palavra Saco se refere a uma entrada de campo alagadiço, uma vereda que se formou entre partes mais altas. Furados era o nome da fazenda onde se encontrava o terreno comprado por Umbelino José Gomes e Joaquim Monteiro de Magalhães. No ano 1883, o senhor Juvêncio Alves Carneiro, juntamente com o seu irmão Prudenciano Alves Carneiro, comprou uma parte da fazenda Furados, conforme os dois documentos conhecidos, que foram assinados na Lapa Grande, local que será descrito a seguir, sendo eles praticamente iguais, com a diferença do nome do comprador. O que se refere a Juvêncio Alves Carneiro é o seguinte:

Digo eu Eduarda Antonia da Silva que entre os mais bens que sou senhõra e puçuidôra livre e dezembargados é bem afsim uma parte de terras que puçuo na fazenda dos furados, que se acha extremada de um mourão a outro, extremado pelo Sul Com o Tenente Joaquim Antônio Cardozo, e pelo Norte Com o primeiro puçuidor, Conforme a partilha da mesma fazenda, e pelo Nascente, nos limites que já forão averiguados, Com a fazenda do Arraial, pelo puente onde chega o dominio da mesma fazenda, de Cujas Terras já mencionadas, vendo ao senhor Juvêncio Alves Carneiro no valor da Compra feita ao Tenente José Antônio de Oliveira e Silva da quantia de hum conto quientos e vinte nove mil novecentos e oitenta e sete reis, do qual vendo ao Comprador a quantia de cento e oitenta e hum mil trezentos e oitenta e sete reis, pelo preço de duzentos e trinta e cinco mil setecentos e quatorze reis, que recebi ao paçar desta, inclusive na mesma venda uma parte nos benefícios que houver em relação a quantia de compra feita ao primeiro comprador, Cuja parte de terras vendo Como de facto vendido tenho ao dicto comprador, que poderá puçuila desfructala d’Ora em diante que, nem eu nem meus herdeiros poderemos reclamar a dicta venda por ter sido feita de minha livre e expontannia vontade, ficando o Compradôr obrigado a pagar a Cira nacional e eu obrigada a fazer-lhe a venda boa, e por não saber ler nem escrever pedi ao senhor Rozendo Domingues Cardozo, que esta por mim passasse em presença das testemunhas aqui também assignadas. Lapa Grande 30 de Outubro de 1883. Assigno-me arrogo da vendedôura Dona Eduarda Antônia da Silva. (Assinam: Rozendo Domingues Cardozo, Dos. Anges Cardozo Dourado, José da Silva Dourado e Abílio Cardozo Pereira)

Segundo as fontes orais, Eduarda Antônia da Silva seria viúva do tenente José Antônio de Oliveira e Silva, e esse seria filho de Cláudio Antônio de Oliveira, citado anteriormente. Atualmente existe uma localidade que está a 3 km em linha reta, ao norte, da atual sede de Tanque Novo, conhecida como Lagoa da Pedra, o mesmo nome citado no registro 185. As localidades Malhada Grande, Furados e Lagoa do Mato estavam a aproximadamente 7, 3 e 1 km de distância em linha reta, respectivamente, de Lagoa da Pedra. A partir do levantamento dos limites da área comprada pelos irmãos Carneiro, feito com base nas informações fornecidas pelo neto homônimo de Juvêncio Alves Carneiro, que apontou os extremos da parte adquirida, inferimos que a localidade Lagoa da Pedra, para onde Juvêncio foi depois de casar, não era dele, estando provavelmente na área comprada pelo sogro.

Presume-se que o casamento de Juvêncio Alves Carneiro e Arlinda Francisca Gomes tenha ocorrido antes de 1875, ou nesse ano, pois naquela época não era comum as mulheres engravidarem antes de se casar e nesta data eles já tinham a filha Maria da Glória Carneiro, pois na lápide de Maria da Glória está escrito que ela morreu com 44 anos no dia 03 de agosto de 1919.

Segundo depoimento do neto homônimo de Juvêncio Alves Carneiro, sua primeira esposa Arlinda faleceu em 1896. Acredita-se que só a partir desse ano Juvêncio se mudou para o Alecrim I, localizado na parte da fazenda Furados comprada por ele e o seu irmão Prudenciano. Juvêncio casou-se novamente, desta vez com a sobrinha Ana Bela Marques Carneiro, filha de Prudenciano Alves Carneiro e Ursulina Constância de Jesus, que já moravam no Furados. O sobrenome Marques no nome de Ana Bela, ou Bilinha, como também era conhecida, foi informado por fontes orais e seria de origem materna, há mais sobre os pais dela no texto do Furados. Prudenciano incentivou o casamento de sua filha, mesmo sendo o tio dela bem mais velho, viúvo com dez filhos.

Juvêncio construiu uma casa quando se mudou para o Alecrim I, na coordenada 776.276N e 8.501.297E (Alecrim I ou Alecrim Novo). Parte desta casa está na foto abaixo, pintada de branco. Na casa amarela, no lado esquerdo da foto, residiu o seu filho Prudenciano Alves Carneiro, que tinha o mesmo nome do seu avô que também era seu tio. A outra casa amarela, no lado direito, foi construída recentemente sobre uma parte da casa velha por Juvêncio Bonfim Carneiro, filho do Prudenciano referido anteriormente.

Apenas uma filha, dos dez que Juvêncio teve com Arlinda, na Lagoa da Pedra, também fixou residência no Alecrim, a senhora Maria da Glória Gomes, também conhecida por Mariquinha. Ela se casou com o senhor Zeferino Rodrigues de Magalhães, que, segundo fontes orais, seria filho de Roza da Silva Pereira e Umbelino José de Magalhães, no dia 22 de janeiro de 1899 e morou com ele inicialmente no João Vaqueiro, conforme indicado nas anotações do mesmo.

No registro de nascimento de Silvina, citado no texto sobre o Mocambo dos Cardoso, descobrimos que ela seria uma das irmãs de Zeferino e que o pai deles era lavrador natural de Água Quente, atual município de Érico Cardoso, e a mãe natural de Piedade, próximo ao Mocambo dos Cardosos. Os avôs paternos chamavam-se: Claudino José de Magalhães e Anna Luiza das Neves e os avôs maternos: Gordiano Rodrigues da Silva e Maria da Silva Pereira. O registro foi feito pelo cunhado de Zeferino, Leonel Monteiro de Magalhães, da comunidade Rapadura, com quem Silvina casou-se 26 anos depois de ter sido registrada por ele, e que, na ocasião, era casado com outra irmã de Zeferino chamada Jovina Rosa de Magalhães.

Como vimos no registro de nascimento n. 21, o lugar Alecrim já existia quando Juvêncio Alves Carneiro chegou. Os moradores relatam que no lugar conhecido atualmente por João Vaqueiro se encontravam as casas mais antigas, por isso também era chamado de Alecrim Velho. Segundo as fontes orais, também existia uma casa antiga no Alecrim I, próximo à casa construída por Juvêncio, que pertenceu ao seu irmão Francisco Alves Carneiro, e, depois ao filho mais velho de Zeferino e Mariquinha, José. Sabemos que José morou até o fim da década de 1930 no João Vaqueiro e só depois dessa data adquiriu a casa no Alecrim I, mas não foi possível descobrir se houve um intermediário entre Francisco Alves Carneiro e José na casa velha do Alecrim I.

A origem do local chamado Alecrim II também é no mínimo contemporânea ao Alecrim I, pois as informações orais indicam que uma irmã de Juvêncio, Custódia, teria morado lá com o marido, como veremos em seguida. Outro lugar que também parece ter sido habitado, na época em que Juvêncio construiu a casa no Alecrim I, é a vereda do Alecrim, conhecida também como vereda do Duquinha. Segundo algumas fontes orais o nome Duquinha é uma referência ao cunhado de Juvêncio, casado com sua irmã Exupéria, outras fontes consideram que Exupéria teria se casado e ido embora para São Paulo com seu marido, que se chamaria Joaquim Marques. Um registro encontrado em Caldeiras, distrito de Caetité, mostrado no texto sobre a comunidade Mocambo dos Cardosos, leva-nos a pensar em mais uma versão. O casal referido seria: Exupéria Maria de Magalhães e Joaquim Monteiro de Magalhães, pais de Leonel de Magalhães Cardozo, cujo filho se casou com a filha de Juvêncio e Ana Bela, como veremos. Essa versão carece de comprovação, mas, sendo considerada, explica a ocupação da vereda do Duquinha antes do Alecrim I, pois Joaquim Monteiro de Magalhães comprou em 1876, juntamente com Umbelino José Gomes, parte de Saco dos Furados, cuja descrição se assemelha bastante com a vereda do Duquinha. Nesse caso o Duquinha seria o próprio Joaquim Monteiro de Magalhães.

A história de Francisco Alves Carneiro também esclarece um pouco mais sobre a história do Alecrim I. Segundo Abderman Carneiro Pimenta, um historiador e Antônio Carneiro Dourado, um artista, moradores de Lapão e Canarana, respectivamente, e bisnetos de Francisco, ele se casou duas vezes, primeiro com Maria da Glória Cardoso Carneiro, depois com Ana Amélia Cardoso Carneiro, irmã da primeira, e teve onze filhos. Depois que morou no Alecrim foi para um lugar denominado Mundo Novo, atualmente no município América Dourada, Bahia, a mais de 200 km, em linha reta, a nordeste do Alecrim. Viveu com a família nas fazendas Bonita, onde ficou a maior parte do tempo, Enxu e Lapa Grande.

A fazenda Lapa Grande se estendia por cerca de 20 km entre os atuais municípios de Lapão e Canarana, nas margens da vereda Romão Gramancho ou rio Jacaré. Foi o local onde os documentos da compra de parte da fazenda Furados foram assinados, em 1883, o que indica que Francisco tenha sido o intermediário da compra ou o próprio comprador da parte que ficou com seus irmãos e já estaria lá nessa data. Na fazenda Lapa Grande também viveu João Carneiro, irmão de Maria da Glória, sobrinho de Francisco Alves Carneiro. Sua primeira esposa foi sua prima Maria, filha de Antônio Lalau e Amélia Gomes. Maria faleceu no primeiro parto, dez meses após seu casamento. Sua segunda esposa foi Ana Bela Cardoso, que também era viúva e natural de Canarana e, por causa dela, João Alves Carneiro foi para a fazenda Lapa Grande em 1907.

Juvêncio e Ana Bela Carneiro tiveram sete filhos, desses, três morreram ainda crianças. Os outros quatro eram: Arlinda Bela Carneiro, Belarmino Alves Carneiro, Maria da Conceição Carneiro e Prudenciano Alves Carneiro (1917-2002). Arlinda casou-se com o primo Benvido Lessa Carneiro, filho de Constança Clemencia de Jesus e Joaquim Lessa, que, segundo o registo 181, que veremos, moravam em Furados. Como vimos na descrição dos limites da parte de terras na fazenda Alecrins, declarada por Manoel Francisco da Cunha, em 1857, João da Silva Lessa limitava com Alecrins, ao norte e, pelo sobrenome, inferimos que Joaquim Lessa seja parente próximo de João da Silva Lessa. Benvindo morou nos Furados com os pais e depois de casado, passou a morar nas terras da esposa no Alecrim. Belarmino casou-se com uma mulher chamada Josefina e se mudou para as terras dela, no Traçadal, região de Livramento. Maria da Conceição casou-se com João Magalhães Cardoso, filho de Leonel de Magalhães Cardozo e Hermelina de Azevedo e Silva. Inicialmente foi morar com a família do marido, no Mocambo dos Cardosos, mas depois retornou com ele para o Alecrim. Prudenciano casou-se com uma neta de Zeferino, Noeme, e continuou morando no Alecrim.

Como vimos na imagem com anotações de Zeferino, este teve nove filhos com sua esposa Mariquinha e perdeu três ainda crianças, os outros foram: José (01/04/1901), Francisco (09/02/1903), Arlinda (28/08/1904), Anízia (04/10/1907), Amélia (06/07/1909), Rosa (29/12/1911) e Jovenal (09/05/1917). José de Magalhães Carneiro casou-se primeiramente com Belarmina Lessa, sobrinha de Benvindo Lessa e, depois que essa morreu afogada no João Vaqueiro, grávida do sétimo filho, ele se casou com Belarmina Francisca de Jesus, natural de São Domingos e residiu na casa que era de Francisco Alves Carneiro, no Alecrim I. Amélia casou-se “na família Maroto’; Rosa com Altino; Juvenal com Bela e depois com Maria; e ficaram no João Vaqueiro (775.093E e 8.501.016N). Arlinda casou-se com Octávio e foi para o Bandeira (774.705E e 8.500.394N). Anízia casou-se com Francisco Ferreira das Neves, foi para Lagoa Redonda e depois para São Paulo.

Maria da Glória Carneiro, morreu no dia 03 de agosto de 1919, aos 44 anos, em conseqüência de um parto complicado, deixando Zeferino viúvo. O então capitão, assim descrito na lápide, Juvêncio Alves Carneiro morreu em 20 de maio de 1920, deixando sua esposa Ana Bela também viúva. Como Zeferino e Ana Bela eram viúvos e moravam no Alecrim, acabaram se casando no dia 03 de novembro de 1920. Do segundo casamento dos dois, nasceu Venício de (01/08/1921), Celcina (08/09/1923) e Dalila (10/04/1926), todos Magalhães Carneiro. Um fato ocorrido no ano do nascimento da filha caçula, Dalila, que se encontra vivo na memória dos moradores, é a presença dos revoltosos da Coluna Prestes, que, ao chegarem por ali, as famílias abandonaram suas casas e se esconderam por alguns dias, enquanto os invasores matavam animais e usavam as cozinhas para preparar seus alimentos.

Venício casou-se com a prima Dalcy de Assis Carneiro, filha do irmão de Ana Bela, José Marques Carneiro, popularmente conhecido por Cazuza. Ela morava nos Furados, ficou um tempo no Alecrim com o marido, mas depois eles retornaram para Furados. Celcina casou-se com um dos netos de Juvêncio Alves Carneiro, que tinha o mesmo nome deste, filho de Arquimimo e Ermínia, moradores do Pintado. Juvêncio e Celcina fizeram uma nova casa no Alecrim, próximo à vereda e depois foram para Furados. Dalila casou-se com o primo Nelson, filho do irmão de seu pai, Manoel Rodrigues de Magalhães, conhecido por Nezim e depois foi para Iuiú, na divisa entre Bahia e Minas Gerais, onde o Nelson tinha parente.

Essa genealogia resumida dos antigos moradores do Alecrim I nos mostra que todos estão ligados de alguma forma à Ana Bela Marques Carneiro, sendo ela esposa, mãe, madrasta ou sogra dos mesmos. Dentre os seus descendentes, muitos permaneceram na comunidade Alecrim e outros tentaram a vida em lugares diferentes, sendo Furados o mais procurado. Consideramos que os laços de parentesco entre os atuais moradores de Tanque Novo e Alecrim justificam a inserção de toda essa comunidade nos limites legais de Tanque Novo.

A localidade Alecrim II que está em Paramirim na coordenada 776.451N e 8.504.147E, a aproximadamente 3 km ao norte do Alecrim I, está ligada a comunidade Alecrim, cuja capela se encontra em Tanque Novo, através de uma das irmãs de Prudenciano e Juvêncio, Custódia Maria de Jesus, casada com Benedicto Ferreira das Neves, por isso também é conhecida por Alecrim dos Ferreiras. Segundo as informações orais, Benedicto teria se casado outras duas vezes antes de vir para o Alecrim e seria proveniente da fazenda São José, próxima ao município de Igaporã.

Os filhos e as respectivas noras do casal foram: Manoel Ferreira e Francisca Alves Carneiro, prima, filha do irmão de Custódia, Juvêncio Alves Carneiro com Arlinda Francisca Gomes; Abílio Ferreira e Benvinda Marques, prima, filha da irmã de Custódia, Antônia Maria de Jesus (Antoninha) com Ângelo Marques Silva; Clemente Ferreira e Francisca Marques, prima, irmã de Benvinda Marques. As filhas teriam sido: Mariquinha e Ana Joaquina, das quais só obtivemos informações da primeira em um registro de casamento encontrado nas caixas do material sobre o cartório de Lagoa Clara. Mariquinha chamava-se Maria Custódia de Jesus e se casou com Archilino José Rodrigues, da Boca do Campo, em 1917. Sabemos através das informações orais que Manoel Ferreira e a esposa moraram no Alecrim II, onde atualmente mora Hermeregildo Francisco Ernesto, depois fizeram casa no Furados, onde se fixaram alguns descendentes. Clemente Ferreira e a esposa também teriam morado no Alecrim II e depois no Furados, mas não obtivemos informações sobre seus descendentes. O paradeiro de Abílio também não foi esclarecido, algumas fontes nem citam esse como filho de Custódia e Benedicto. Manoel e Francisca tiveram sete filhos: Pedro Ferreira, José Ferreira, Maurílio, Israel, Arlinda, Maria Ferreira e Custódia.

Quando esses viviam, o transporte utilizado era o cavalo ou o carro-de-boi, o tratamento de doenças era a base de chás, ervas e curandeiros, as aulas eram dadas na casa de uma pessoa mais velha, com cartilhas e professores com baixo grau de escolaridade e a economia era baseada principalmente na agropecuária local.

A comunidade só se tornou mais atrativa para outras famílias a partir de 1970, com a construção de estradas, da Escola Municipal Zeferino Rodrigues de Magalhães, localizada na coordenada 775.701E e 8.501.234N, campo de futebol, aguadas públicas e, a partir de 1985, ano da emancipação do município, com a construção do poço artesiano e da capela, que tem por padroeiro São Sebastião.

Conforme os moradores, no ano 2007 já não existiam analfabetos no Alecrim e quase todas as crianças estudavam na comunidade; apenas 10 estudavam fora. Em 2009, este número inverteu, sendo que apenas 11 crianças estudaram na escola da comunidade, 10 no ensino fundamental inicial e uma na pré-escola, as outras na sede do município. Dos estudantes da comunidade apenas um foi atendido por transporte escolar em 2009. A comunidade conta atualmente com energia elétrica e água encanada, proveniente da barragem do Zabumbão, no município Paramirim, que é bombeada para a sede e outras regiões do município, passando pelo Alecrim, e existe também a Associação Beneficente Comunitária do Alecrim, ativa desde 28 de junho de 1996 e a Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Comunidade de Alecrim II, ativa desde 05 de maio de 1998.

Os moradores valorizam os poucos espaços naturais, a flora, principalmente os umbuzeiros, e a fauna silvestre, como tentativa de preservar as características originais, que hoje se encontram ilhadas entre o pasto para o gado e as áreas em processo de degradação. Nem mesmo a planta Alecrim, que os moradores consideram a origem do nome, é encontrada com facilidade na comunidade. Por exemplo, na vereda do Alecrim, conhecida anteriormente como vereda do Duquinha, onde existiam fauna e flora diversificada na década de 1980, hoje se encontra a pista de corrida de cavalo, a pista de MotoCross e uma área com poucas árvores, mantidas graças aos proprietários particulares. Os relatos dizem que existiram veados campeiros, tatus, micos, aves silvestres, preás, raposa, gato-do-mato, que atualmente são raros. O solo, que é arenoso e com pedregulhos, está se tornando cada vez menos fértil.

A economia local se baseava principalmente na agropecuária, mas atualmente muitas pessoas da comunidade têm casas na sede e são realizadas atividades econômicas secundárias, sendo a fonte de renda principal obtida na cidade. Os que dependem exclusivamente do que produzem na terra são poucos, ou sequer existem, depois dos programas assistencialistas do governo federal. A atividade de mineração informada é a retirada de britas, a partir das rochas que alguns proprietários encontram em suas propriedades.

As doenças que mais afetam as pessoas da comunidade, segundo os próprios moradores, são decorrentes de hipertensão, diabetes, problemas respiratórios e verminoses. Cada família tem sua fossa e o lixo é queimado por alguns e outros usam como adubo. A comunidade possui o Programa de Saúde da Família e uma agente comunitária de saúde.

Na culinária local destaca-se o bolo de puba, chimango, avoador, escaldado, beiju de massa, beiju de tapioca, cuscuz, pamonha, chotão de farinha, requeijão etc. No artesanato destacava-se o processo de fabricação de roupas de algodão pelas moradoras mais antigas usando a roca e o fuso no preparo da linha e o tear para a fabricação dos tecidos. Com esses confeccionavam calças, camisas e cobertores, que eram chamados de bitus. Eram confeccionados também mortalhas e o cordão de São Francisco. Os homens trabalhavam com madeira fazendo caixão de farinha, carros-de-boi etc. Com o couro fabricavam bruacas, malas que eram usadas em animais, alforjes, chinelos, relhos etc. As principais manifestações culturais são: festa religiosa de São Sebastião, festa popular de São João, rezar a Via-Sacra e as novenas de Natal, queimar o Judas, dançar forró e escutar música sertaneja.

As crianças sempre aproveitaram os intervalos das aulas para praticar futebol. Quando os adultos de hoje eram jovens, criaram o time que se reunia todas as tardes para treinar, no campinho em frente ao prédio escolar. Com o tempo, começaram as disputas aos domingos, com times de outros lugares. Hoje a comunidade tem um campo de futebol em uma área comprada do senhor Isac Lessa Carneiro, um dos entrevistados. Além do futebol, antes as crianças jogavam dama, baralho, peteca, brincavam de ciranda, esconde-esconde, pico, morto-vivo, boneca-de-pano, cavalo-de-pau e carrinho-de-boi, feito com caule seco do pé de milho. Hoje gostam mais de futebol, baleada e brincam com os brinquedos comprados nas lojas da cidade.