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30 de nov. de 2015

BIOGRAFIA DE JOÃO BAZÍLIO LOPES


João Bazílio Lopes era filho de Brasilino Lopes da Silva e Ubaldina Alves de Brito. Nasceu no dia 26 de janeiro de 1935, na comunidade de Morrinhos, onde passou a infância e parte de sua juventude. Depois, trabalhou durante algum tempo em São Paulo, como tratorista.
Em 1960, casou-se com Suzana Vieira de Oliveira e no ano seguinte mudou-se para Tanque Novo, em companhia de sua esposa, com o objetivo de trabalhar na serraria de Osvaldo Marques da Silva (Vavá Marques). Desse matrimônio, nasceram duas filhas: Maria Vieira Lopes e Suzete Vieira Lopes.

João Bazílio foi um dos homens polivalentes de Tanque Novo. Trabalhou como agricultor, ferreiro, funileiro, marceneiro, retratista ou fotógrafo, motorista de caminhão, mecânico, reformador de baterias, encanador, eletricista, músico (tocava sanfona, violão e tuba; com este último instrumento, participou ativamente, por longos anos, da Banda Filarmônica de Tanque Novo, animando os festejos da Padroeira “Coração de Maria” e tocando em cidades vizinhas). Fazia enxertos em frutas e legumes, foi fogueteiro (a “nega de fogo” e a cascata eram os destaques nos fogos de artifício), fabricante de vassouras, rodos e trinchetes, comerciante, dentista prático, protético e político. Além disso, prestava socorro às pessoas, vítimas de pequenos acidentes, como: engasgos, sementes em nariz de crianças, anzol preso na pele, ou, até mesmo fraturas em braços; tudo isso ele resolvia. Estancava hemorragias, fazia curativos e aplicava injeções, também.
Sempre foi curioso e gostava de novidades. Foi um dos primeiros possuidores de motocicleta e, com a chegada da energia elétrica, logo comprou uma televisão em preto e branco, que servia de lazer para muita gente. Trabalhou com o serviço de alto-falante, foi sócio fundador e presidente do Ginásio Cenecista de Tanque Novo, contribuindo, inclusive, para a implantação do segundo grau. Por ser conhecedor de teoria musical, mesmo sem ter o curso primário completo, deu aulas de música no colégio.

 Com sua velha máquina de datilografia, ajudou jovens de sua terra a serem aprovados em concursos de bancos. Era participativo, farrista, gostava de tocar violão para os rapazes em feijoadas e piqueniques, e tinha prazer de receber em casa os tocadores de Reis, todo mês de janeiro.
Como político, foi vereador em 1970, na gestão de Juvêncio Carneiro Neto, quando Tanque Novo era distrito de Botuporã. Nessa época, ele fazia títulos de eleitor na zona rural, andando de bicicleta. Ficou bastante decepcionado, porém, com a política, tanto a local quanto a estadual e a nacional. Na hora do jornal da televisão, mudava de canal para não ouvir falar sobre corrupção. Preferia desenhos, filmes, novelas, programas populares ou rurais. Quando não havia nada interessante, assistia a DVDs de aventuras, bangue-bangue, novelas do passado ou programas humorísticos. Mesmo assistindo várias vezes o mesmo programa de humor ou filme, dava muitas risadas de Mazzaropi, Chaves e dos Trapalhões.

Afastou-se da sociedade e ficou muito recolhido, muito caseiro.... Comprou um terreno na comunidade de São Domingos, que era sua distração: plantava, tirava leite de algumas vaquinhas, cozinhava e concluía seus trabalhos protéticos, de dentaduras... Só não abriu mão de sua televisão! Contornou a falta de energia ligando o aparelho em uma bateria de carro e mais uma vez fez a alegria de muita gente. Depois de certo tempo, devido a um desgosto, acabou vendendo o terreno para evitar maiores aborrecimentos.
Mesmo com a saúde debilitada e a idade um pouco avançada, tinha o prazer de tocar violão, aos domingos, na rádio de Tanque Novo, quando aproveitava para mandar “um alô” para os amigos.

João Bazílio foi um homem simples, humilde, inteligente, trabalhador e, acima de tudo, honesto. Faleceu no dia 18 de março de 2014. Partiu, deixando seu nome cravado na história de Tanque Novo. 






30 de set. de 2015

PROCURAÇÕES FEITAS PELA PROFESSORA RAQUEL

Procurações escritas de próprio punho, pela professora Raquel, nas décadas de 1930, 1940 e 1960:



 



11 de ago. de 2015

CENTENÁRIO DE ARLINDO ALVES CARNEIRO




Arlindo Alves Carneiro nasceu no dia 31 de julho de 1915 e faleceu no dia 29 de março de 1995. Portanto, se estivesse vivo, teria completado cem anos no dia 31 de julho, próximo passado.
Uma vez, ele disse: “Todo dia é Dia dos Pais, e todo dia, também, é Dia das Mães. Nós queremos, apenas, respeito e consideração”.
Por isso, em respeito e consideração à sua memória, aqui vai nossa homenagem:
Logo após seu nascimento, foi apelidado de “Doutor”, por sua avó materna. Não estudou em colégio (teve aulas particulares, referentes ao curso primário), “não cursou nenhuma faculdade, mas, na vida, ele foi doutor”! Como dizia o saudoso Antônio Marcos, na música “O Homem de Nazaré”. Foi doutor, sim, pois, tratava muita gente, fazendo curativos, aplicando injeções e prescrevendo, acertadamente, “receitas”, por mais de quarenta anos, através de sua farmácia popular. (Dureza era acordar à meia-noite ou de madrugada, para vender comprimido fiado). Realizou duas ou três curas de pacientes desenganados pelos médicos. Não se gabava desses feitos, nem permitia que divulgássemos sobre esses episódios. Ele dizia: “O importante é a pessoa (que deseja ser curada) ter fé”. Jesus Cristo, ao realizar um milagre, afirmava: “Vai, tua fé te curou”!
Arlindo ajudava sua esposa Raquel (primeira professora de Tanque Novo) a tomar as lições dos meninos, ameaçando-os com uma régua de madeira. (Nessa época, era permitido o uso da palmatória). Ralhava, mas, não batia. Quando batia papo, tinha a voz mansa, educada. Porém, na hora de reclamar, fazia qualquer um tremer de medo.
Numa placa de bronze (homenagem de José Aleir Silva Magalhães, advogado), há os seguintes dizeres sobre nossa casa, em Tanque Novo: “Ouso afixar esta placa nesta casa, onde, por anos e mais anos, sob o mister de Seu Arlindo e de Dona Raquel, também serviu como hospital e escola; ora aliviando dores e prolongando vidas, ora cuidando da educação de vários dos filhos desta terra. Muitos alcançaram altos voos”...
Foi ideia de Arlindo, a escolha da terça-feira como dia da feira de Tanque Novo. Já tentaram mudar para o sábado, mas, não deu certo. É um dia que estrangula a semana, contudo, fez a feira de Tanque Novo ficar forte e famosa.
Nas décadas de 1940 e 1950, era comum o uso de terno. Ele acostumou tanto, que às vezes, usava a gravata acompanhada de uma blusa de lã, como comprova uma das fotos, nesta página. Não deixava que a gente fosse ao banco, calçando sandálias havaianas e usando bermuda: “Veste uma calça, calça um tênis e vai fazer esse depósito pra mim”! E, prontamente, havia obediência. Hoje, em dia, em muitas famílias, estão desaparecendo a decência, o respeito e a obediência.
Ele gostava de ouvir rádio, principalmente, noticiário. Acompanhava até “A Voz do Brasil”, que começava assim: “Em Brasília, dezenove horas”. Pegava o programa sertanejo de Zé Bettio, que mandava jogar água em quem estivesse dormindo depois das oito da manhã. E curtia, também, algumas músicas da MPB, como “Filho Adotivo” de Sérgio Reis (provavelmente, pela coincidência, na letra da música, que dizia haver seis filhos naturais e um adotivo). “Disco Voador”, também, de Sérgio Reis e “Ouro de Tolo” de Raul Seixas, eram escolhidas, talvez, pelo tema sobre seres extraterrestres. Na música de Sérgio Reis, diz assim: “Tomara que seja verdade que exista, mesmo,disco voador. Que seja um povo inteligente, que traga pra  gente, a paz e o amor”. E, no sucesso de Raul Seixas, terminando com essa frase: “Porque, longe das cercas embandeiradas que separam quintais, no cume calmo do meu olho que vê, assenta a sombra sonora de um disco voador”.
Jamais recebera homenagem de políticos. Ele observava, quando alguém era homenageado, e falava: “O certo é assim: prestar homenagem enquanto a pessoa está viva”. Mas, para nós, sua lembrança continua viva!
Esta é uma singela homenagem dos seus filhos: Maria, Raquelinda, Arlindo Filho (Carneiro), Edilson, Aparecido e Eloísa.

Deleitemo-nos, agora, com o poema do seu sobrinho Teotônio Marques Filho (Tunico), que mora há mais de quarenta anos, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Ele é PhD em Letras, já fez resumos de inúmeros livros e elaborou discursos para centenas de parlamentares mineiros:

Doutor

“Ninguém é o que parece. Nem Deus”... (Érico Veríssimo)

Magro, carrancudo, cara de bravo,
que nem Joaquim Carneiro,
do clã dos Alves Carneiros do lugar,
com seu eterno pigarro de tabaco...
(Em meio à fumaça das baforadas,
memória da infância moldada
no barro da terra de Tanque Novo...)

Com a voz gutural, cara fechada,
ajudava a tomar a lição de cavalões e cavalinhos,
na escolinha da tia Raquel...
Com a régua na mão, amansava os bravos,
no compasso da “ferula sancta” de outrora...

Pura aparência de braveza...
No peito, apenas o coração tenro e terno,
dos alvos carneiros do lugar.
como dito na sabedoria popular:
“Quem vê cara, coração não vê”...

Doutor do vilarejo, então Furados,
fazia de tudo na farmacinha da casa-escola.
(Memória do rombo na perna,
da pescaria na escuridão da noite,
curado com a água benta oxigenada
de São Justiniano, filho adotado...).

Tio Doutor...
Não o doutor de régua e compasso,
nem de beca e canudo.
Apenas o doutor de experiência feito,
diplomado no coração da gente,
em “honoris causa”...

Doutor Arlindo Alves Carneiro,
o alvo carneiro de Tanque Novo,
que ousou arrebatar a Pérola Negra de Caetité,
montado num corcel branco!
Ecoou, então, malícia nos ares e nos mares de amares...

Malícia cortada por um certo coronel Teotônio,
que deu guarida e a sentença:
_Meu cunhado Arlindo contrai núpcias com quem lhe apraz.
Memória de tempos idos e jazidos,
que ficam como jazidas, nos filhos da boa cepa,
uns doutores de fato, outros de feitos:
Maria, Carneirinho, Raquelinda,
Edilson, Aparecido e Eloísa.
Sem propalar netos e bisnetos...

Na travessia da vida,
a memória dos feitos de cada um,
com a cara que Deus lhe deu.
Na imensidão do horizonte infindo,
como pérola que reluz,
um vulto que acena se desfaz em luz,
com um leve sorriso no ar...

(Teotônio Marques Filho, em fevereiro de 2013)