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23 de mar. de 2011

PROJETO HISTÓRICO SOBRE RAQUEL PEREIRA CARNEIRO





Este é mais um trabalho realizado na faculdade de Caetité (UNEB). Desta vez, trata-se de um projeto de monografia feito pelo tanque-novense Edvan Santos Carvalho, estudante do curso de História. Pelo projeto, percebemos que a monografia promete ser um trabalho grandioso. Por este motivo, nós, familiares de Raquel Pereira Carneiro, ficamos lisonjeados, agradecemos imensamente e parabenizamos Edvan por essa bela iniciativa.





UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS

DCH/ CAMPUS VI



Biografia, Memória e Docência de Raquel Pereira Carneiro

1916-1964



EDVAN SANTOS CARVALHO

Projeto de Pesquisa apresentado ao componente curricular Pesquisa Histórica II, do Curso de Licenciatura em História, da Universidade do Estado da Bahia – UNEB – DCH - VI, ao professor Marcos Profeta.


Caetité – Março/ 2011



SUMÁRIO


APRESENTAÇÃO ______________________________________________ 3

JUSTIFICATIVA _____________________________________________ 5

OBJETIVO _________________________________________________ 7

PROBLEMÁTICA ______________________________________________ 8

METODOLOGIA _____________________________________________ 11

FONTES __________________________________________________ 13

CRONOGRAMA ______________________________________________ 14

BIBLIOGRAFIA _____________________________________________ 15



APRESENTAÇÃO


Ao colocarem os graduandos em História[1] diante da perspectiva de fazer pesquisa histórica, as recomendações foram para terem um contato inicial com escritas oriundas de pesquisas realizadas pelos professores e alunos do Campus VI da Universidade do Estado da Bahia – UNEB – com o objetivo de despertar temáticas adormecidas e fomentar o gosto pela pesquisa, tendo em vistas as discussões promovidas dentro do curso. Entre as discussões, foram interessantes as promovidas pela disciplina Políticas Educacionais, momento em que foi estudada brevemente a história da educação no Brasil. Nesse contexto, despertava-se para a possibilidade em se pesquisar a história da educação no Alto Sertão Baiano. Porém ao proceder a escolha do objeto de investigação desta pesquisa, o intuito era seguir por caminhos que levassem à produção de algo sobre o município de Tanque Novo como forma de contribuir com a escrita de sua história.

Esta pesquisa parte da perspectiva da vida que não se narra, mas que se deseja compreender dentro do espaço em constante transformação. Nesta oportunidade investigar-se-á a trajetória de vida da professora Raquel Pereira, cuja memória se encontra no seio familiar, no âmbito da experiência individual, que se revela importante na dinâmica de um espaço em processo de construção de saberes, crenças e valores, mostrando que sua experiência faz parte do coletivo, portanto, da memória social.

Raquel Pereira de Andrade, filha de Renato Pereira de Andrade e Leonor Fagundes Cotrim, nasceu na Fazenda Pintada, de José Antônio Tanajura, no dia 30 de janeiro de 1917, depois mudou-se para a Fazenda Vazante, de seu tio Ciro Pereira de Andrade, perto da vila Gentio, hoje Ceraíma, município de Guanambí - Bahia. Aos quatro anos de idade foi adotada pela sua tia Silvéria Maria de Jesus Fagundes, passando a morar em Caetité. Tornou-se professora em 7 de dezembro de 1932, após ter sua formação escolar concluída pela Escola Normal de Caetité, aos 16 anos de idade, ainda incompletos; ano em que recebeu a nomeação do Estado para lecionar em Tanque Novo, um povoado que contava apenas 22 casas e uma capela, pertencente ao município de Macaúbas.

Em sua primeira turma, matriculou-se 30 alunos, na faixa etária de 7 a 16 anos[2].
Com o passar do tempo, acumulava na mesma sala de aula, alunos do 1º ao 5º ano primário. Além das matérias básicas (Gramática, Aritmética, História, Geografia e Ciências) ensinava também artesanato e bordado e ministrava encontros de catequese. Havia, nessa época, visitas de inspetores (delegados) escolares, que chegavam de repente, sem qualquer aviso prévio, para avaliação do ensino:

“Tive o ensejo de visitar, nesta data, a Escola Mista do arraial de Tanque Novo, do município de Macaúbas, regida pela profª. Raquel Pereira de Andrade, encontrando-a em pleno exercício de suas funções, demonstrando zelo e dedicação à causa do ensino. A escola com 49 alunos de matricula estavam presentes 35, sendo 16 do sexo masculino e 19 do sexo feminino; a escrita está sendo feita com o máximo anseio e regularidade.

É louvável a aptidão e o interesse da novel educadora pelo progresso dos seus educandos. Que continue a devotada regente desta escola bem servindo a infância desta localidade para maior grandeza da Pátria, são os meus votos.”[3]

Casou-se em 1943 com Arlindo Alves Carneiro, filho de família tradicional do lugar, em virtude disso passou a se chamar Raquel Pereira Carneiro; dessa união teve oito filhos, dos quais, dois vieram a óbito nos primeiros dias de vida. Além de ser professora; tornou-se membro do Apostolado do Sagrado Coração de Jesus; costurava roupas e bordava enxovais de noivas; tocava bandolim; engajava-se na realização da festa da padroeira Imaculado Coração de Maria, maior expressão cultural de Tanque Novo.

Foram 91 anos de vida, sendo 32 desses anos compartilhados com a educação; foram 75 anos morando em Tanque Novo e por ser a primeira professora deste lugar tem uma representação social muito importante dentro do processo de construção de uma sociedade ainda desprovida dos cuidados públicos no âmbito da instrução educacional. Nessa perspectiva, percebe-se que sua a biografia traz alguns questionamentos importantes, diante das diversas homenagens promovidas pelos familiares e amigos na ocasião da cerimônia religiosa fúnebre, e posteriormente, pela comunidade local em reconhecimento aos seus feitos. Questionamentos como: Qual sua formação docente para o exercício do magistério? Como a comunidade local, em sua maioria branca, aceitou a proposta de uma professora negra? Como Rachel Pereira de Andrade se tornou Raquel Pereira Carneiro? Sua representação social na formação intelectual, moral, cívica, religiosa, dos educandos?


JUSTIFICATIVA


“Desde os tempos do neoplatônico Damaskios, no século V a.C., a quem se atribui a cunhagem da palavra biografia (de bios, vida e gráphein, escrever, descrever, desenhar), narrativa de trajetórias individuais permanece em destaque, suscitando interesse, quaisquer que sejam sua forma ou as intenções que motivam sua elaboração.” (CARINO, 1999)[4]


Escrever uma biografia é, portanto, descrever a trajetória única de um ser único, original e irrepetível; é traçar uma identidade refletida em atos e palavras do biografado e/ou pelo testemunho de outros; é interpretar, reconstruir e quase sempre reviver as experiências do biografado. Não se biografa em vão, segundo CARINO (1999), biografa-se com finalidades precisas, como: exaltar, criticar, demolir, descobrir, renegar, apologizar, reabilitar, santificar, dessacralizar. Essas finalidades e intenções fazem com que o retratar de vidas, de experiências e trajetórias individuais transforme-se, intencionalmente ou não, numa pedagogia do exemplo.

Estudos acerca da profissão docente têm mostrado a importância de se pesquisar as histórias de vida de professores para compreender o modo de construção de sua prática e de sua formação, como se pode ver em Nóvoa e Finger (1988); Bueno, Catani e Sousa (1998), dentre outros. Estes estudos também apontam a importância da pesquisa das trajetórias de vida de professores como representações sociais, compreendendo a docência como produto da atividade individual e coletiva atribuída de inúmeros significados para todo o espaço no qual ela se desenvolve.

Como sujeitos de ação significativa no meio social, os professores produzem a sua existência social e profissional a partir de sua inserção em diferentes campos sociais, embora o campo educacional se destaque por ser o lugar próprio de atuação da docência. Segundo Bourdier (2004) cada campo social se constitui como um espaço social relativamente autônomo, como um microcosmo dotado de suas próprias leis; uma espécie de mundo social que, como outros, obedecem a leis mais ou menos específicas. Essas leis são formuladas pelo capital, que não é necessariamente financeiro, mas de um tipo particular que se refere ao reconhecimento de uma competência que proporciona autoridade.

Bourdier (2004) compreende que os atores sociais estão inseridos espacialmente em determinados campos sociais, a posse de grandezas de certos capitais (intelectual, cultural, social, econômico, político, artístico, esportivo etc.) condiciona seu posiciomento espacial, o que o leva a identificar-se com sua classe social. E que para o ator social tentar ocupar um espaço nessa dinâmica social é necessário que ele conheça as regras do jogo dentro do campo social e que esteja disposto a jogar. É, portanto, no interior dessa discussão que os agentes produzem as suas existências sociais.


“É a estrutura das relações objetivas entre os agentes que determina o que eles podem e não podem fazer. Ou, mais precisamente, é a posição que eles ocupam nessa estrutura que determina ou orienta, pelo menos negativamente, suas tomadas de posições.” (Bourdier, 2004 p.23)


Isso significa que só será possível compreender, verdadeiramente, a trajetória de vida docente a partir do momento em que se detectar a posição que os mesmos ocupam no espaço, não apenas situando-os para compreender sua prática e formação, mas sabendo “de onde eles falam”.

A vida de Raquel Pereira Carneiro passou a ser interessante para esta pesquisa por dois motivos que se entrelaçam. O primeiro diz respeito sobre sua história de vida; percebe-se que há indagações de valor enquanto objeto de pesquisa histórica, como por exemplo, a história de uma adolescente negra que ingressa na atividade docente a partir da década de 1930 no Alto Sertão da Bahia. Segundo, escrever a biografia de Raquel Pereira Carneiro é buscar compreender sua trajetória em determinado contexto historiográfico no espaço em que se desenvolve: atual cidade de Tanque Novo. Assim, entrelaçados, esta pesquisa buscará explicar a partir daquele contexto histórico a biografia, a memória e docência de Raquel Pereira Carneiro.

Para compreender a trajetória de vida da professora Raquel Pereira Carneiro não basta construir uma narrativa referindo-se ao contexto social, contentando-se apenas em estabelecer uma relação direta entre a escrita e o contexto histórico. É preciso fazer uma conexão entre o universo no qual se insere e o espaço que produz, reproduz e difunde as leis sociais. Assim, a gênese desta pesquisa teria um fundo biográfico, de relevância social ao expor as estratégias de ser e estar no lugar, bem como nos campos sociais e locais, além de produzir conhecimento histórico.


OBJETIVO


Pretende-se ao longo desta pesquisa discutir, a partir da trajetória individual da referida professora, aspectos da sociedade tanquenovense no que tange aos tradicionalismos arraigados que imputam esteriótipos e moldam comportamentos.


PROBLEMÁTICA


Há não muito tempo ainda se chama as professoras de “tia”. Carinho, cuidado, zelo quase materno parecem ser parte indissociável do ser mulher, mãe e professora; além das disposições religiosas de ser também catequista. Missão quase sacerdotal, vocação, dedicação, sacrifício e doação, estes são alguns termos que permeiam o universo representacional dos professores. Nesta pesquisa, tais convicções serão questionadas, uma vez que o entendimento que se tem é de compreender a docência como profissão.

Diante disso, a primeira questão que se abre ao pesquisar sobre a biografia da professora Raquel Pereira Carneiro diz respeito ao seu processo de escolarização. Na década de 1920 surgem os educadores de profissão, em sua maioria influenciados pelas idéias da Escola Nova, concebida como espaço social em defesa da educação pública. Nesse contexto, deixando de lado as reformas educacionais federais que não se realizavam concretamente, algumas iniciativas de reformas no âmbito estadual foram anunciadas. Na Bahia, se destaca as reformas propostas por Anísio Teixeira, em 1925, que representava uma iniciativa de formação de professores com a criação ou reativação de Escolas Normais, associada à implementação de um sistema público de escola primária que colocasse em exercício docente esses professores.

Segundo VEIGA (2008), no sentido epistemológico, a palavra docência tem suas raízes no latim docere, que significa ensinar, instruir, mostrar, identificar, dar a entender. Ainda segundo a autora, o registro do termo na língua portuguesa é datado de 1916, o que implica dizer que a utilização, ou melhor, a apropriação do termo é algo que se insere no espaço dos discursos sobre educação presentes na trajetória de escolarização e formação da professora Raquel Pereira de Andrade.

Estudar na Escola Normal de Caetité era caro, como afirma Raquel Pereira Carneiro:[5]


“Dona Celina Lima, irmã de Dr. Osvaldo, me protegia muito; tinha na Escola Normal de Caetité uma instituição denominada Caixa Escolar que ajudava os alunos que não tinham condições. Antes era a minha madrinha que pagava tudo na escola, inclusive a minha matrícula, aí o senhor Batista Neves falou para ela que existia essa instituição que ajudava os alunos mais necessitados e, a partir daí, fui sendo ajudada pela Caixa Escolar”


Naquele período (décadas de 1920 e 1930), os alunos sem condições financeiras criavam algumas estratégias para seguir nos estudos: solicitavam empréstimos de livros aos colegas mais abastados, iam estudar nas casas dos amigos ou ainda se dirigiam à biblioteca da escola, cuja precariedade e insuficiência do acervo tornava o acesso aos livros bastante disputado.


“Bons professores, explicavam muito, boas colegas, eu não tinha livros na época, estudava com as colegas, na casa de Agnalda Públio eu ia muito (...) era com muita dificuldade que se estudava nessa escola, principalmente, os pobres (...) estudava à noite, preenchia o que foi dado na aula através dos livros da colega Agnalda. Eu estudava muito por apontamentos, os colegas emprestavam muitos livros, os professores também emprestavam muitos livros.”[6]


A partir desse relato e das condições sócio econômicas de sua família de origem e adotiva, é interessante perceber as circunstâncias que tornaram possíveis a ela estudar no período. Por que o ingresso na formação docente e não em outra ocupação? Terá sido produto de uma escolha livre e racional? Uma determinação mecânica da estrutura social? Segundo VEIGA (2008), o ser professor e o estar na profissão docente se constroem em contextos, de acordo com as condições objetivas de sua inserção em campos sociais determinados. NÓVOA explicita que:


“(...) a identidade não é um dado adquirido, não é uma propriedade, não é um produto. A identidade é um lugar de lutas e conflitos, é um espaço de construção de maneiras de ser e estar na profissão.” ( NÓVOA, 1997, p.34)


Determinante para a trajetória de vida de Raquel Pereira Carneiro, a Escola Normal representava para a sociedade caetiteense a possibilidade de melhoria das condições sociais, econômicas e culturais; portanto, capital necessário para o estabelecimento de relações sociais, bem como a circulação por variados campos sociais. A identificação e a pertença, bem como o trânsito por diferentes campos sociais, a posse de capitais determinados e de disposições interiorizadas de pensamento e ação, que os orientam na elaboração de estratégias de luta nos diversos campos sociais, são condições fundamentais a partir dais quais se constroem as representações sociais.


CHARTIER (1990) entende as representações sociais, nos estudos dos processos com os quais se constrói um sentido, como:


“[...] esquemas intelectuais, que criam as figuras graças às quais o presente pode adquirir sentido, o outro tornar-se inteligível e o espaço ser decifrado” (CHARTIER, 1990,p.17).


É perceptível, no processo de compreensão e análise da professora Raquel Pereira Carneiro, que a mesma relacionou com a dinâmica do lugar no qual estava inserida. Segundo CERTEAU (1982), em história todo o sistema de pensamento está referido a lugares sociais, econômicos, culturais, etc.:


“Toda pesquisa historiográfica se articula com um lugar de produção sócio-econômico, político e cultural.[...] É em função deste lugar que se instauram os métodos, que se delineia uma topografia de interesses, que os documentos e as questões que lhes serão propostas, se organizam.” (CERTEAU, 1982, p. 66-67)


CERTEAU (1982) também menciona que o lugar exerce uma dupla função: uma em que torna possível certas pesquisas em função de conjunturas e problemáticas comuns; outra em que torna impossível, pois exclui e/ou censura dos discursos aquilo que não é compatível ao lugar. Segundo BUENO et al. (1993), muitas vezes, a experiência dos professores era subestimada porque seu papel enquanto sujeitos históricos eram invisíveis, suas existências minimizadas, enquanto as ações e práticas efetivas se davam por outros agentes; sua experiência individual era tida como indizível ou excepcional, e, portanto, irreprodutível ou irrelevante social e historicamente.


“A história destes sujeitos, que são reais, corporificados, têm sexo e pertencem a uma raça/etnia e uma classe social, é uma história que acaba por direcionar a sua forma especifica de ser e de estar no mundo, constituída pelas maneiras de enfrentar os desafios, de aprender os caminhos possíveis e descobrir os atalhos ocultos; essas maneiras são as peças do quebra-cabeças de suas histórias de vida [...]. Em cada uma dessas histórias é preciso, mais uma vez, desvelar, tirar o véu de sua protagonista para trazer à luz uma trajetória que começa na infância, passa pela adolescência e juventude e chega à idade adulta, e onde influências variadas tiveram e ainda têm lugar.” (BUENO et al., 1993, p. 313


Assim sendo, esta pesquisa caminha no sentido de dialogar com demais estudos acerca da História Regional, sobretudo do Alto Sertão Baiano, onde estar-se-a buscando definir e considerar a agente da representação social, a professora Raquel Pereira Carneiro, e o lugar de onde se manifestou; dizer do lugar social, do contexto de vida e de trabalho dentro dos quais se moveu.


METODOLOGIA


O projeto de pesquisa com biografia implica uma série de novos problemas que surgiram ao longo do século XX. Fazendo a opção pelo método biográfico aos moldes do praticado no inicio do século XX, o resultado poderia ser talvez um trabalho que exaltasse a figura da professora Raquel Pereira Carneiro, apenas enquanto primeira professora, enfatizando todo o ineditismo que sua ação trouxera para a sociedade local. Entretanto, numa perspectiva mais atual, buscar-se-á colocar o problema das lacunas sobre os seus momentos biográficos que já foram destacados pela oralidade local e diversas homenagens, apropriando-se de um conjunto de posturas e comportamento típicos da época e do objeto estudado para compor um estudo mais científico.

Nessa perspectiva, esta pesquisa se identifica dentro da corrente de biografia e contexto, onde a personagem em estudo se encontra dentro de um contexto histórico e social que oferece muitos caminhos para o desenvolvimento da pesquisa. Assim, conforme novos caminhos surgirem, necessitam ser analisados de acordo com as fontes apresentadas e sob o olhar de novas referências bibliográficas, vencendo os obstáculos colados quanto ao acesso às fontes e a leitura das mesmas.


“A intenção de construção de um discurso próximo da verdade é uma das marcas da prática escrita dos historiadores, podendo ser percebida desde o momento da pesquisa documental, passando pela elaboração explicativa até se consolidar na construção textual.” (Ricouer, 1994, p. 169-171).


A preocupação ao lidar com as fontes é a de desvendar os múltiplos fios que ligam a professora Raquel Pereira Carneiro ao contexto da época, estabelecendo a relação indivíduo/sociedade para a compreensão de sua trajetória de vida. Em primeiro lugar, a pesquisa consiste na análise das memórias dos ex-colegas e ex-alunos e a discussões de suas representações sobre a docência, aliados a uma análise documental em curso nessa investigação, que darão o suporte necessário para a elaboração da história de vida da professora Raquel Pereira Carneiro.

A historiografia passou por significativas transformações teóricas e metodológicas, principalmente em relação ao tratamento diferenciado das fontes de pesquisa, enriquecendo ainda mais crítica aos documentos. Essas indagações contribuem para entender o contexto da época em que viveu a personagem e facilita a produção da narrativa.

Nessa perspectiva da pesquisa biográfica, é de fundamental importância à utilização da memória como fonte histórica. NORA (1993) afirmou então que "a memória se enraíza no concreto, no espaço, no gesto, na imagem, no objeto.” Sendo assim, Nora apresenta sua categoria de “lugares de memória” que são os grupos sociais, ou seja, sexuais, étnicos, comportamentais, de gerações, de gêneros entre outros, onde se procura ter acesso a uma memória viva e presente das trajetórias de vida. Mas, o mesmo, pontua que se não houver uma memória espontânea e verdadeira, há, no entanto, a possibilidade de se acessar a uma memória reconstituída que nos dê o sentido necessário de identidade.


"Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea, que é preciso criar arquivos, organizar celebrações, manter aniversários, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas, porque estas operações não são naturais” (NORA, 1993, p. 13)


Entende-se, portanto, que a memória só adquire sentido quando compartilhada, na medida em que a narração do passado é provocada elaborada em torno de referências e pontos em comum com a memória dos outros. Essas referências e pontos em comum se exemplificam nos sentimentos de pertencimento, de se identificar com os demais grupos sociais; assim o resgate das memórias e a interpretação do passado se integram na tentativa mais ampla de definir ou de reforçar a coerência e coesão cientifica necessária para o respaldo da pesquisa.

O trabalho com as memórias de ex-colegas e ex-alunos não significa que o passado seja possível de ser resgatado na sua inteireza e veracidade, seu uso estará apoiado em vestígios, fontes, sinais, testemunhos, enfim, com base em documentos que a legitime e que serão buscados quando necessários.


FONTES


1. Manuscritas:

Acervo pessoal composto por relação de matrículas de alunos, diários de classe, documentos civis, anotações.

2. Orais:

Entrevistas e depoimentos com ex-colegas e ex-alunos que, além do contato docente, vivenciaram ou estiveram envolvidos em outras ações da personagem pesquisada.

3. Iconográficas

Acervo iconográfico da família.

4. Arquivos

Documentos da Escola Normal de Caetité, que se encontra no Instituto de Educação Anísio Teixeira



CRONOGRAMA



BIBLIOGRAFIA


BOURDIER, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clinica do campo científico. Tradução: Denice Bárbara Catani – São Paulo: Editora UNESP, 2004.

BUENO, Belmira Oliveira; SOUSA, Cynthia Pereira de; CATANI, Denice Bárbara e SOUSA, Maria Cecília C.C de. Docência, Memória e Gênero: Estudos Alternativos sobre a Formação de Professores. Psicologia - USP, São Paulo, 4(1/2), p. 299-318, 1993

CARINO, Jonaedson. A biografia e sua instrumentalidade educativa. Educação & Sociedade, ano XX, nº 67,Agosto/99

CATANI, Denice Barbara... [et al.]. Docência, memória e gênero: estudos sobre formação. São Paulo: Escrituras Editora, 1997.

CERTEAU, Michel de. A operação historiográfica. In: CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.

LOPES, Francisca Ramos. DOCÊNCIA E NEGRITUDE: Práticas discursivas do cotidiano escolar. UERN/Açu, RN.

NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Projeto História 10: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduação em História. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/ Departamento de História, 1993, p. 7-28

NÓVOA, Antônio. Diz-me como ensinas, dir-te-ei quem és e vice-versa. In: FAZENDA, I (orgs). A pesquisa em educação e as transformações do conhecimento. 2ª ed. Campinas: Papirus.

NÓVOA, Antônio e FINGER, Mathias. O método (auto)biográfico e a formação. Lisboa: MS/DRHS/CFAP.

PERROT, Michelle. “Práticas da memória feminina” Revista Brasileira de História. São Paulo, v.9, n.18, ago-set. 1989, p.13;v

SOUZA, Elizeu Clementino de. e FORNARI, Liege Maria Sitja. Memória, (Auto)Biografia e Formação. In: In: Profissão docente: novos sentidos, novas perspectivas. Ilma Passos A. Veiga e Cristina d’Ávila (Orgs.) Campinas, SP: Papirus, 2008.

SCHMIDT, Benito Bisso. Construindo Biografias ... Historiadores e Jornalistas: Aproximações e Afastamentos. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 19, 1997

RICOUER, Paul. Tempo e narrativa. Campinas: Papirus, 1994 ( tomo I ).

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Docência como atividade profissional. In: Profissão docente: novos sentidos, novas perspectivas. Ilma Passos A. Veiga e Cristina d’Ávila (Orgs.) Campinas, SP: Papirus, 2008.


[1] UNEB, Campus VI, Caetité - Ba

[2] Registro de matrícula dos alunos da Escola Mista de 3ª classe de Tanque Novo. Ano 1933, Macaúbas - BA

[3] Termo de inspeção do inspetor escolar Emiliano Santos Ferreira. Tanque Novo 29 de maio de 1941

[4] CARINO, Jonaedson. A biografia e sua instrumentalidade educativa. Educação & Sociedade, ano XX, nº 67,Agosto/99

[5] Entrevista realizada com Dona Rachel Andrade no dia 21 de julho de 2004, realizada por Adriana de Oliveira Rocha.

[6] Entrevista realizada com Dona Rachel Andrade no dia 21 de julho de 2004, realizada por Adriana de Oliveira Rocha.