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13 de jun. de 2010

PAINEL DE FÁBIO MAGALHÃES









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Tanque Novo: Uma Abordagem Cultural e Histórica de Um Povo

Fábio Magalhães

A identidade cultural de um povo está intimamente ligada à sua memória, mas, não pode ser vista como um conjunto de valores fixos e imutáveis. Faz parte do processo de continuidade de uma sociedade, a incorporação de elementos novos, e isso é o que a mantém viva ao longo do tempo.
É através dela que o indivíduo se adapta e reconhece um ambiente como seu. Dessa forma, sem a identidade cultural, seria impossível que as pessoas se encaixassem em uma sociedade com características próprias. Diante dessa complexa malha que envolve a cultura com suas festas, ritos, cantigas, folclore, modos de falar, de vestir; os costumes, o saber, bens imateriais, música, danças, etc.
Sendo assim, como extrair a identidade cultural de uma cidade se não for pelo viés da poesia, da arte... Como costurar a grande colcha de retalhos que é a cultura popular? Entre a infinidade de manifestações vividas por um povo, nas suas mais variáveis fronteiras. Quais usar? Quais imagens melhor expressam nossas características? Como abordar aquilo que nos é comum no dia-a-dia?
Contudo, por mais difícil que pareça, para compor nossa colcha, entre um manancial de retalhos, singular, foi preciso selecionar alguns:
_ Para as bordas, duas noites: a primeira, do dia 23 de junho, iluminada pelo ardor das fogueiras _ a noite de São João. Do outro lado, a que ressoa os ecos dos versos da contradança, da toada, do ABC, e das cantigas _ a noite da Folia de Santos Reis, em seis de janeiro. _ Então, no decorrer da trama, foram colados, justapostos, os retalhos da Queima de Judas, no sábado de aleluia. O bumba-meu-boi, a erguida do Mastro que abrilhantam o entardecer dos sábados, nos festejos da padroeira. Logo depois, um retalho centenário e de fé _ uma procissão do “Apostolado Coração de Jesus”.
_ Sem esquecer o retalho mais genuíno: trinta e uma noites de nossos leilões com toda a irreverência e alegria do Sr. Maninho; e dos inesquecíveis pirulitos de mel. Também, houve espaço para o cultivo da terra _ o retalho do feijão, do milho e da mandioca, com a produção da farinha nas casas de rodas. Em seguida, costuraram-se os retalhos históricos: ao centro, as sombras que brotam da terra, alusivas á memória dos fundadores da cidade _ os irmãos Juvêncio e Prudenciano, separados pelas veredas.
_ A primeira capela, em períodos distintos; e o carro de boi.
Nessa colcha, também, sopram os ventos da lembrança: não poderia falar de uma cidade sem relembrar os cidadãos que nela vivem ou viveram: oito pessoas que compõem o diversificado tabuleiro social; pessoas contemporâneas e de tempos outros; pessoas populares ou desconhecidas; pessoas comuns, pessoas acolhidas; pessoas educadoras, pessoas guerreiras; comerciantes, militantes, religiosos, compositores, foliões...

Alzira Alves Carneiro _ nasceu em Tanque Novo, em 1949. Formou-se professora primária, em Caetité, pelo Instituto de Educação Anísio Teixeira, em 1971. Lecionou em Tanque Novo, turmas de ensino infantil e de ensino fundamental. Foi secretária escolar do Centro Educacional Cenecista de Tanque Novo. Atuou como diretora dessa instituição nos anos de 1988 e1989. Teve uma grande contribuição no desenvolvimento educacional do município. Faleceu em 1993.

Teotônio Marques da Silva _ nasceu em 1899, em Tanque Novo. Foi forte comerciante; contribuiu para o desenvolvimento da cidade, doando terrenos para a construção da Escola Municipal Teotônio Marques; para a construção do açude, e para a construção da Escola Família Agrícola. Prestou relevantes serviços à educação, exercendo as funções de delegado escolar. Faleceu em 1979.

Padre Aldo Luchetta _ nasceu em 1941, em Codogné Treviso, Itália. Lá, foi ordenado padre e chegou ao Brasil em 1967. Como pároco de Tanque Novo, contribuiu para o crescimento religioso e social, criando várias associações comunitárias. Sua contribuição resultou na construção do primeiro Centro de Saúde, da nova Igreja Matriz, e da Escola Família Agrícola. Faleceu em 1998, num acidente de automóvel.

João Neves de Oliveira _ nasceu em 1941, em Tanque Novo. Logo cedo, percebeu sua vocação pelo comércio, destacando-se como um dos principais empresários da região, e um dos agentes fundamentais para o desenvolvimento do município, através da geração de empregos e de renda. Ingressou-se na política em 1986, como o primeiro prefeito de Tanque Novo.

Justiniano Pereira de Sousa _ nasceu em Igaporã-Ba, em 1931 Chegou a Tanque Novo com três anos de idade, e morou com Raquel Pereira (prima e mãe adotiva). Compositor e intérprete do hino de Tanque Novo. Morreu em 2009.

José Vitorino dos Santos (Zé de Raimunda) _ viveu na antiga comunidade de Piçarrão, em Tanque Novo, nas primeiras décadas de 1900, repentista e “reizeiro”, juntamente com seus filhos introduziu a Folia de Reis, em Tanque Novo.

Juvêncio Carneiro Neto _ nasceu em 1927, em Tanque Novo. Neto de Juvêncio Alves Carneiro (um dos fundadores de Tanque novo) foi prefeito de Botuporã e escrivão do Cartório de Registro Civil, em Tanque Novo.

Raquel Pereira Carneiro _ nasceu em Guanambi, em 1917. Com apenas 16 anos, formou-se em Caetité, e foi nomeada pelo Estado para trabalhar no povoado de Tanque Novo. Participou ativamente dos primeiros progressos de Tanque Novo, como a criação do Posto de Correios e da feira livre. Morou em Tanque Novo durante 75 anos e faleceu em 2008.

Apertados os nós dos retalhos históricos, bordou-se, ao centro, o retalho último: uma grande devoção religiosa, iluminando como um sol _ o “Imaculado Coração de Maria” que derrama sobre Tanque Novo, suas bênçãos.
A conclusão de tal colcha é tarefa infinita. Esse mural foi apenas uma abordagem. Ainda há muitos retalhos a coser... Retalhos esquecidos, retalhos que ainda estão por vir... A busca pela essência da identidade cultural é mais que um sonho: é uma necessidade, é um feto que não pôde ser abortado, em nome de nenhum projeto ideológico que salvaguarde interesses particulares usurpadores da esperança de nossa gente.


Quem é Fábio Magalhães?

Seu nome completo é Antônio Fábio Magalhães Carneiro. Nasceu em Tanque Novo, Bahia, no ano de 1982. Tem como filiação: José Carneiro Magalhães e Clarice Carneiro Magalhães. É bisneto de Juvêncio Alves Carneiro e trineto de Prudenciano Alves Carneiro _ os fundadores de Tanque Novo. Explicação: é bisneto de Juvêncio Alves Carneiro, porque sua avó paterna (Maria da Conceição Carneiro) é filha do segundo casamento de Juvêncio com Ana Bela Carneiro; e trineto de Prudenciano Alves Carneiro, uma vez que, sua bisavó paterna, de codinome Bilinha, era filha de Prudenciano.
Formou-se em Artes Plásticas, pela Universidade Federal da Bahia, em 2007. Já atuava, como artista, muito antes de sua formação. Realizou sua primeira exposição individual em 2008, na Galeria de Arte da Aliança Francesa em Salvador/BA. Entre suas principais exibições de quadros, estão: 60º Salão de Abril em Fortaleza/CE e 63º Salão Paranaense em Curitiba/PR, ambos em 2009 _ esses salões são os mais antigos e tradicionais do país. Além disso, tem as seguintes participações, em seu currículo: XV Salão da Bahia em Salvador/Ba, em 2008; I Bienal do Triângulo em Uberlândia MG no ano de 2007; IX, VIII e VII Bienal do Recôncavo na cidade de São Félix BA, nos anos de 2008, 2006 e 2004; além da presença constante nos Salões Regionais da Bahia, realizados nas cidades de Vitória da Conquista, Itabuna, Feira de Santana e Juazeiro da Bahia. Após um caminho intenso de experimentações com diversas linguagens visuais, a pintura tem ocupado importante espaço em seu pensamento e atitude artística, fazendo valer a liberdade inerente à arte contemporânea; pois, o resultado de seu trabalho concorre para um conjunto de operações capazes de borrar os limites entre a pintura, o desenho e a fotografia.
Recentemente, foi contemplado pelo edital Matilde Mattos, promovido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia que, através do fundo de Cultura, conceberá a realização da exposição “O Grande Corpo”.
Sobre o Painel, destacamos o efeito visual colocado na imagem da igreja (pintada de azul). Ao deslocarmos para a direita ou para a esquerda, temos a impressão de mudança de posição da mesma. É um trabalho muito bonito, feito em mosaico. Para nós, leigos, é uma montagem de um verdadeiro “quebra-cabeça”.
Infelizmente, nem todos elogiaram seu trabalho. Alguns criticaram, dizendo que faltaram ancestrais importantes; outros, políticos, ficaram enciumados, porque não tiveram seus rostos estampados no mesmo painel. Tentaram, até, embargar a exposição dessa obra. Contudo, Fábio, num momento de feliz inspiração, disse no seu texto, que foi colocado num folder: “É uma grande colcha de retalhos... a conclusão da mesma é tarefa infinita... ainda há muitos retalhos a coser...”
Como diz o ditado: “Santo de casa não faz milagre!”
Nós só temos que enaltecer esse trabalho e incentivar o grande artista plástico que é Fábio Magalhães. Para nós, tanquenovenses, é uma honra muito grande, tê-lo como conterrâneo; pois, temos certeza, que seu futuro é bastante promissor.
Vejam as mostras que contaram com sua participação:

MOSTRAS COLETIVAS:
2009. “63° Salão do Paraná”. Museu de Arte Contemporânea, Curitiba - PR.
.“60° Salão do Abril”. Galeria Antônio Bandeira, Fortaleza - CE.
.“Circuito das Artes”. Galeria Aliança Francesa, Salvador-BA.
2008. “XV Salão da Bahia”. Museu de Arte Moderna, Salvador-Ba.
.“IX Bienal do Recôncavo”. Centro Cultural Dannemann, São Felix-BA.
.“Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia”. Centro Cultural Adonias Filho, Itabuna - BA.
.“Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia”. Centro Cultural Camilo de Jesus Lima, Vitória da Conquista - BA.
2007. “Bienal do Triângulo”. SESC/MG, Uberlândia - MG.
.“Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia”. Centro Cultural Amélio Amorim, Feira de Santana-BA.
. “Afetos Roubados”. Exposição Itinerante e Processual. Conjunto Cultural da Caixa, Salvador-BA.
.“Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia”. Centro Cultural João Gilberto, Juazeiro - BA.
.“INSERÇÔES”. Galeria Cañizares, Salvador-BA.
2006. “VIII Bienal do Recôncavo”. Centro Cultural Dannemann, São Felix-BA.
.“Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia”. Centro Cultural Camilo de Jesus Lima, Vitória da Conquista - BA.
.“Afetos Roubados”. Exposição Itinerante e Processual. Museu Théo Brandão, Maceió-AL /Galeria Capibaribe da UFPE, Recife-PE/ Faculdade Santa
Marcelina, São Paulo-SP.
2005. “Salão Regional de Artes Plásticas da Bahia”. Centro Cultural Amélio Amorim, Feira de Santana-BA.
.“Afetos Roubados”. Exposição Itinerante e Processual. ICBA, Salvador-BA.
2004. “VII Bienal do Recôncavo”. Centro Cultural Dannemann, São Felix-BA;
2003. “125 anos de Escola de Belas Artes”. Centro de Memória e Cultura dos Correios Salvador-BA;
2002. “VISÕES”. Casa de Angola, Pelourinho, Salvador-BA.
.“Exposição Verde II”. Biblioteca do Estado da Bahia, Salvador-BA.
.“Projeto Arte Ambiental”. Praia de Armação, Salvador-BA.
.“IV Cartoons e Photos Undercover”. EXPODROOM, Bélgica.
.“III Mostra de Arte e Descritiva”. ARQ-UFBA, Salvador-BA.
2001. “Mais caras”. Casa do Tecelão, Pelourinho, Salvador-BA.

MOSTRAS INDIVIDUAIS:
2008. “Jogos de Significados”. Galeria do Conselho, Salvador-BA. (Aprovado pelo edital “Portas Abertas para as Artes Visuais)
2007. “Linhagens do Acaso”. Galeria Aliança Francesa, Salvador-BA.

OBRAS EM ACERVO:
Casa de Angola, Salvador-BA.
Galeria Aliança Francesa, Salvador-BA.


Identificando as personalidades no painel:


Professora Alzira e Professora Raquel


João Neves (Juca) e Justiniano


Teotônio Marques e Juvêncio Carneiro Neto

Padre Aldo e Zé de Raimunda