Mãe lutou com muita resignação contra um câncer de mama,
descoberto há um ano e meio. Em momento algum, queixou-se, demonstrando
fraqueza. Pelo contrário, teve uma grande resistência orgânica; pois, não fazia
uso de medicamento algum. Não aceitava comprimidos, xaropes ou injeções.
Apenas, um paliativo tópico, através de curativos diários. Também, não
blasfemou; sua fé continuou inabalável e, por isso, sempre recebia a santa
comunhão. Seu otimismo era constante.
Há poucos dias, lembrou-se com muita lucidez, de algumas músicas interessantes:
Chico Mineiro, Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos, Detalhes, A Triste
Partida, Peixe Vivo e outra que eu não conhecia – Na Serra da Mantiqueira.
O curioso é que em cada música, pude pinçar frases premonitórias:
- A Triste Partida – o
título, em si, já é bastante sugestivo.
- Chico Mineiro – parece que estava
recordando de seu companheiro de longas datas: “Fizemos a última viagem...”
- Peixe Vivo – cada descendente seu
ficou cantando o refrão: “Como poderei viver, como poderei viver sem a tua, sem
a tua, sem a tua companhia”.
- Detalhes – a lembrança dessa
música é um recado direto para o povo de Tanque Novo: “Não adianta nem tentar
me esquecer; durante muito tempo em sua vida eu vou viver”.
- Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos
– parece que está chegando ao Paraíso e tem “uma história pra contar de um
mundo tão distante...” Nesse instante, “janelas e portas vão se abrir pra ver
você chegar. E ao se sentir em casa, sorrindo vai chorar...”
Antes de ficar em cadeira de rodas, seu caminhar era muito lento, quase
arrastado. E isso, acrescido de uma frase sua, me fez lembrar outra canção. A
frase foi direcionada para seus filhos: “Quero que vocês toquem a vida pra
frente, com muito amor. E que sejam muito unidos!”
A música é: Tocando em
Frente de Almir Sater e Renato Teixeira.
Ando devagar, porque já tive pressa e levo esse sorriso,
Porque já chorei demais.
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe,
Eu só levo a certeza de que muito pouco sei, eu nada sei.
(Conhecer as manhas e as manhãs,)*
O sabor das massas e das maçãs. )
É preciso amor pra poder pulsar, ) Refrão
É preciso paz pra poder sorrir, )
É preciso a chuva para florir. )
Penso que cumprir a vida seja simplesmente,
Compreender a marcha e ir tocandoem frente
Como um velho boiadeiro, levando a boiada,
Eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou, estrada eu sou.
(Volta refrão)
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora,
Um dia a gente chega e no outro vai embora.
Cada um de nós compõe a sua história,
E cada ser, em si, carrega o dom de ser capaz, de ser feliz.
(Volta refrão)
(Mensagem proferida pelo filho Aparecido Carneiro Pereira, na missa de corpo presente de Raquel Pereira Carneiro).
Ando devagar, porque já tive pressa e levo esse sorriso,
Porque já chorei demais.
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe,
Eu só levo a certeza de que muito pouco sei, eu nada sei.
(Conhecer as manhas e as manhãs,)*
O sabor das massas e das maçãs. )
É preciso amor pra poder pulsar, ) Refrão
É preciso paz pra poder sorrir, )
É preciso a chuva para florir. )
Penso que cumprir a vida seja simplesmente,
Compreender a marcha e ir tocando
Como
Eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou, estrada eu sou.
(Volta refrão)
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora,
Um dia a gente chega e no outro vai embora.
Cada um de nós compõe a sua história,
E cada ser, em si, carrega o dom de ser capaz, de ser feliz.
(Volta refrão)
(Mensagem proferida pelo filho Aparecido Carneiro Pereira, na missa de corpo presente de Raquel Pereira Carneiro).
Acrescentamos o seguinte:
A música Na Serra da Mantiqueira de Gastão Fermenti, também era
uma premonição. A última estrofe faz acreditarmos que Raquel previa a morte de
um filho pouco depois: Justiniano Pereira de Souza (adotivo) faleceu no ano
seguinte (2009). Confira a estrofe:
E, numa tarde, ao sol poente,/ Ela escuta de repente,
A voz meiga do rapaz / Que
lhe diz, tal como em vida:
“Muito em
breve, mãe querida, / Lá, no Céu, me encontrarás!”
*Literalmente, Raquel conheceu as “manhas e as manhãs” dos políticos
locais.