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29 de set. de 2011

CADA UM COMPÕE A SUA HISTÓRIA



Mãe lutou com muita resignação contra um câncer de mama, descoberto há um ano e meio. Em momento algum, queixou-se, demonstrando fraqueza. Pelo contrário, teve uma grande resistência orgânica; pois, não fazia uso de medicamento algum. Não aceitava comprimidos, xaropes ou injeções. Apenas, um paliativo tópico, através de curativos diários. Também, não blasfemou; sua fé continuou inabalável e, por isso, sempre recebia a santa comunhão. Seu otimismo era constante. 

Há poucos dias, lembrou-se com muita lucidez, de algumas músicas interessantes: Chico Mineiro, Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos, Detalhes, A Triste Partida, Peixe Vivo e outra que eu não conhecia – Na Serra da Mantiqueira. 

O curioso é que em cada música, pude pinçar frases premonitórias:

- A Triste Partida – o título, em si, já é bastante sugestivo. 

- Chico Mineiro – parece que estava recordando de seu companheiro de longas datas: “Fizemos a última viagem...”

- Peixe Vivo – cada descendente seu ficou cantando o refrão: “Como poderei viver, como poderei viver sem a tua, sem a tua, sem a tua companhia”.

- Detalhes – a lembrança dessa música é um recado direto para o povo de Tanque Novo: “Não adianta nem tentar me esquecer; durante muito tempo em sua vida eu vou viver”.

- Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos – parece que está chegando ao Paraíso e tem “uma história pra contar de um mundo tão distante...” Nesse instante, “janelas e portas vão se abrir pra ver você chegar. E ao se sentir em casa, sorrindo vai chorar...”



Antes de ficar em cadeira de rodas, seu caminhar era muito lento, quase arrastado. E isso, acrescido de uma frase sua, me fez lembrar outra canção. A frase foi direcionada para seus filhos: “Quero que vocês toquem a vida pra frente, com muito amor. E que sejam muito unidos!”

A música é: Tocando em Frente de Almir Sater e Renato Teixeira.

Ando devagar, porque já tive pressa e levo esse sorriso,
Porque já chorei demais.
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe,
Eu só levo a certeza de que muito pouco sei, eu nada sei.

(Conhecer as manhas e as manhãs,)*
O sabor das massas e das maçãs. )
É preciso amor pra poder pulsar, ) Refrão
É preciso paz pra poder sorrir, )
É preciso a chuva para florir. )

Penso que cumprir a vida seja simplesmente,
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como
um velho boiadeiro, levando a boiada,
Eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou, estrada eu sou.

(Volta refrão)


Todo mundo ama um dia, todo mundo chora,
Um dia a gente chega e no outro vai embora.
Cada um de nós compõe a sua história,
E cada ser, em si, carrega o dom de ser capaz, de ser feliz.

(Volta refrão)

(Mensagem proferida pelo filho Aparecido Carneiro Pereira, na missa de corpo presente de Raquel Pereira Carneiro).




Acrescentamos o seguinte:
A música Na Serra da Mantiqueira de Gastão Fermenti, também era uma premonição. A última estrofe faz acreditarmos que Raquel previa a morte de um filho pouco depois: Justiniano Pereira de Souza (adotivo) faleceu no ano seguinte (2009). Confira a estrofe:
E, numa tarde, ao sol poente,/ Ela escuta de repente,                                                                                      A voz meiga do rapaz / Que lhe diz, tal como em vida:                                                                                                            “Muito em breve, mãe querida, / Lá, no Céu, me encontrarás!”  
                                                                                            
*Literalmente, Raquel conheceu as “manhas e as manhãs” dos políticos locais.