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11 de ago. de 2015

CENTENÁRIO DE ARLINDO ALVES CARNEIRO




Arlindo Alves Carneiro nasceu no dia 31 de julho de 1915 e faleceu no dia 29 de março de 1995. Portanto, se estivesse vivo, teria completado cem anos no dia 31 de julho, próximo passado.
Uma vez, ele disse: “Todo dia é Dia dos Pais, e todo dia, também, é Dia das Mães. Nós queremos, apenas, respeito e consideração”.
Por isso, em respeito e consideração à sua memória, aqui vai nossa homenagem:
Logo após seu nascimento, foi apelidado de “Doutor”, por sua avó materna. Não estudou em colégio (teve aulas particulares, referentes ao curso primário), “não cursou nenhuma faculdade, mas, na vida, ele foi doutor”! Como dizia o saudoso Antônio Marcos, na música “O Homem de Nazaré”. Foi doutor, sim, pois, tratava muita gente, fazendo curativos, aplicando injeções e prescrevendo, acertadamente, “receitas”, por mais de quarenta anos, através de sua farmácia popular. (Dureza era acordar à meia-noite ou de madrugada, para vender comprimido fiado). Realizou duas ou três curas de pacientes desenganados pelos médicos. Não se gabava desses feitos, nem permitia que divulgássemos sobre esses episódios. Ele dizia: “O importante é a pessoa (que deseja ser curada) ter fé”. Jesus Cristo, ao realizar um milagre, afirmava: “Vai, tua fé te curou”!
Arlindo ajudava sua esposa Raquel (primeira professora de Tanque Novo) a tomar as lições dos meninos, ameaçando-os com uma régua de madeira. (Nessa época, era permitido o uso da palmatória). Ralhava, mas, não batia. Quando batia papo, tinha a voz mansa, educada. Porém, na hora de reclamar, fazia qualquer um tremer de medo.
Numa placa de bronze (homenagem de José Aleir Silva Magalhães, advogado), há os seguintes dizeres sobre nossa casa, em Tanque Novo: “Ouso afixar esta placa nesta casa, onde, por anos e mais anos, sob o mister de Seu Arlindo e de Dona Raquel, também serviu como hospital e escola; ora aliviando dores e prolongando vidas, ora cuidando da educação de vários dos filhos desta terra. Muitos alcançaram altos voos”...
Foi ideia de Arlindo, a escolha da terça-feira como dia da feira de Tanque Novo. Já tentaram mudar para o sábado, mas, não deu certo. É um dia que estrangula a semana, contudo, fez a feira de Tanque Novo ficar forte e famosa.
Nas décadas de 1940 e 1950, era comum o uso de terno. Ele acostumou tanto, que às vezes, usava a gravata acompanhada de uma blusa de lã, como comprova uma das fotos, nesta página. Não deixava que a gente fosse ao banco, calçando sandálias havaianas e usando bermuda: “Veste uma calça, calça um tênis e vai fazer esse depósito pra mim”! E, prontamente, havia obediência. Hoje, em dia, em muitas famílias, estão desaparecendo a decência, o respeito e a obediência.
Ele gostava de ouvir rádio, principalmente, noticiário. Acompanhava até “A Voz do Brasil”, que começava assim: “Em Brasília, dezenove horas”. Pegava o programa sertanejo de Zé Bettio, que mandava jogar água em quem estivesse dormindo depois das oito da manhã. E curtia, também, algumas músicas da MPB, como “Filho Adotivo” de Sérgio Reis (provavelmente, pela coincidência, na letra da música, que dizia haver seis filhos naturais e um adotivo). “Disco Voador”, também, de Sérgio Reis e “Ouro de Tolo” de Raul Seixas, eram escolhidas, talvez, pelo tema sobre seres extraterrestres. Na música de Sérgio Reis, diz assim: “Tomara que seja verdade que exista, mesmo,disco voador. Que seja um povo inteligente, que traga pra  gente, a paz e o amor”. E, no sucesso de Raul Seixas, terminando com essa frase: “Porque, longe das cercas embandeiradas que separam quintais, no cume calmo do meu olho que vê, assenta a sombra sonora de um disco voador”.
Jamais recebera homenagem de políticos. Ele observava, quando alguém era homenageado, e falava: “O certo é assim: prestar homenagem enquanto a pessoa está viva”. Mas, para nós, sua lembrança continua viva!
Esta é uma singela homenagem dos seus filhos: Maria, Raquelinda, Arlindo Filho (Carneiro), Edilson, Aparecido e Eloísa.

Deleitemo-nos, agora, com o poema do seu sobrinho Teotônio Marques Filho (Tunico), que mora há mais de quarenta anos, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Ele é PhD em Letras, já fez resumos de inúmeros livros e elaborou discursos para centenas de parlamentares mineiros:

Doutor

“Ninguém é o que parece. Nem Deus”... (Érico Veríssimo)

Magro, carrancudo, cara de bravo,
que nem Joaquim Carneiro,
do clã dos Alves Carneiros do lugar,
com seu eterno pigarro de tabaco...
(Em meio à fumaça das baforadas,
memória da infância moldada
no barro da terra de Tanque Novo...)

Com a voz gutural, cara fechada,
ajudava a tomar a lição de cavalões e cavalinhos,
na escolinha da tia Raquel...
Com a régua na mão, amansava os bravos,
no compasso da “ferula sancta” de outrora...

Pura aparência de braveza...
No peito, apenas o coração tenro e terno,
dos alvos carneiros do lugar.
como dito na sabedoria popular:
“Quem vê cara, coração não vê”...

Doutor do vilarejo, então Furados,
fazia de tudo na farmacinha da casa-escola.
(Memória do rombo na perna,
da pescaria na escuridão da noite,
curado com a água benta oxigenada
de São Justiniano, filho adotado...).

Tio Doutor...
Não o doutor de régua e compasso,
nem de beca e canudo.
Apenas o doutor de experiência feito,
diplomado no coração da gente,
em “honoris causa”...

Doutor Arlindo Alves Carneiro,
o alvo carneiro de Tanque Novo,
que ousou arrebatar a Pérola Negra de Caetité,
montado num corcel branco!
Ecoou, então, malícia nos ares e nos mares de amares...

Malícia cortada por um certo coronel Teotônio,
que deu guarida e a sentença:
_Meu cunhado Arlindo contrai núpcias com quem lhe apraz.
Memória de tempos idos e jazidos,
que ficam como jazidas, nos filhos da boa cepa,
uns doutores de fato, outros de feitos:
Maria, Carneirinho, Raquelinda,
Edilson, Aparecido e Eloísa.
Sem propalar netos e bisnetos...

Na travessia da vida,
a memória dos feitos de cada um,
com a cara que Deus lhe deu.
Na imensidão do horizonte infindo,
como pérola que reluz,
um vulto que acena se desfaz em luz,
com um leve sorriso no ar...

(Teotônio Marques Filho, em fevereiro de 2013)