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30 de nov. de 2009

PROFESSORA RAQUEL - TEMA DE ANTROPOLOGIA










UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS VI – CAETITÉ

PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ESTADO

COLEGIADO DE CIÊNCIAS


CURSO – BIOLOGIA


Disciplina: Antropologia

Nome do professor: Genílson Ferreira da Silva

Tema: A Influência da Professora Raquel no Município de Tanque Novo

Data da apresentação: março de 2009.

Breve resumo:

O trabalho apresentado não exigiu nenhum relatório escrito da equipe, por este motivo convidamos Eloísa para dar o seu depoimento oral, enquanto filha de dona Raquel. Para fundamentar o trabalho utilizamos um slide feito com fotos e dados retirados do blog. Buscamos retratar na apresentação, a influência da professora Raquel no município de Tanque Novo, enquanto pessoa, profissional, mulher e negra, que rompeu barreiras no que se refere ao tempo e espaço em que vivia.
Eloísa começou dizendo:

_ A escola era multisseriada – acumulavam, na mesma sala, alunos do 1º ao 5º ano primários.
_A professora Raquel Pereira exerceu algumas influências, junto à comunidade de Tanque Novo, como: a criação da feira livre e do Posto de Correios, que foram reivindicações suas.
_Ela também, incentivou a arte, resumindo ou dirigindo peças teatrais e recitativas; ensinando artesanato e bordados; costurando vestidos de noivas e fazendo arranjos com flores artificiais; enfim, fazendo a verdadeira inclusão social.
_ Inspirou aqueles que tinham queda para a música, ao tocar bandolim; isso gerou a formação da primeira banda filarmônica de Tanque Novo.
_Na parte religiosa, dava aulas de catecismo e ensinava hinos e cânticos religiosos; estimulava os jovens a participarem das celebrações religiosas, como por exemplo, treinando-os para a coroação da imagem de Nossa Senhora.
Quanto ao preconceito citado em “Ode aos Setenta” de Teotônio Marques Filho (Tunico), Eloísa falou que sua mãe, por ser negra, sofreu alguma discriminação. E expôs um caso, para ilustração: “A mãe e uma das irmãs de Arlindo Alves Carneiro (então noivo da professora Raquel), foram contra esse casamento. Mas, seus respectivos cônjuges souberam contornar a situação, e elas se tornaram amigas e comadres, posteriormente.”
Uma curiosidade extraordinária foi sobre os costumes dos enterros, naquela longínqua comunidade (antes mesmo da chegada dessa professora). Os “anjinhos” (crianças que tinham morte prematura) eram maquiados até com papel crepom, “a fim de ficarem bonitinhos e irem para o céu.” A professora Raquel, como era adolescente, assimilou esse costume e passou a ajudar nessas “maquiagens”.
Até hoje, os enterros chamam a atenção, em Tanque Novo: são servidas refeições e bebidas alcoólicas, nos velórios e, às vezes, salgadinhos e refrigerantes, além de chá, café e biscoitos.
Se a pessoa tiver sido importante para a comunidade, o povo desfila com o caixão do defunto, pelas principais ruas da cidade, com acompanhamento de carro de som, míni-trio ou banda filarmônica.
Além disso, as missas de corpo presente são demoradas (duram duas horas ou mais), com várias homenagens, coroas de flores e inúmeras mensagens, acrescidas de biografia, discursos e faixas. Os parentes do falecido têm o direito de escolher algumas canções populares que condizem com a história daquela pessoa.
Ao concluir, Eloísa disse que Tanque Novo, apesar de ser uma cidade pequena, possui quatro cemitérios: dois municipais e dois particulares _ um da família do Sr Jovino Alves de Oliveira e outro da família do Sr Umbelino Alves Carneiro.

VÍDEO APRESENTADO NA FACULDADE DE CAETITÉ


Este vídeo é baseado em fotos e dados extraídos do blog, como a redação de Caetano Veloso e o poema de Teotônio Marques Filho (Tunico) _ "Ode aos Setenta", tendo como fundo musical "A Professorinha" (Meus Tempos de Criança de Ataulfo Alves). Além disso, foi apresentado o áudio, na voz marcante do Sr Juvêncio Carneiro Neto, "Despedida à Professora Raquel".

Obs.: Como já existe, no blog, o vídeo "Exaltação e Despedida à Professora Raquel", achamos por bem, acrescentar a mensagem escrita:


Mensagem de Despedida á Professora Raquel

No dia 22 de maio de 1933, Tanque Novo se alegrava com a chegada de uma jovenzinha de apenas 16 anos de idade; que Deus, com toda a sua sabedoria, enviou-nos para ser a nossa primeira mestra. Hoje, 24 de novembro de 2008, Tanque Novo amanheceu muito triste: pois, perdemos a nossa mestra pioneira e a nossa tão querida professora Raquel Pereira Carneiro; que conosco conviveu por 75 anos, e que tanto contribuiu para a formação moral, espiritual, social e cultural do nosso povo.

É com grande pesar que hoje nos despedimos dessa ilustre cidadã, que por sua dedicação e amor a esta terra, se naturalizou tanquenovense, deixando-nos como legado os seus grandes ensinamentos e seu exemplo de amor à virtude e ao bem; os quais, jamais, serão esquecidos pelos seus ex-alunos, parentes e todos seus amigos.

Aqui fica o nosso reconhecimento e a nossa eterna gratidão. E que Deus, na sua infinita bondade, tenha sua alma, lá, no reino celeste.




27 de nov. de 2009

BIOGRAFIA DE JUSTINIANO


1ª foto: Justiniano com sua mãe adotiva - Raquel Pereira
2ª foto: Justiniano com sua esposa Maria Altina e a 1ª filha - Marilene





Biografia de Justiniano Pereira de Sousa

Justiniano Pereira de Sousa nasceu no dia 12 de dezembro de 1931, em Lagoa Funda – Igaporã, porém, foi registrado em Botuporã. Tinha orgulho de dizer que era tanquenovense de coração. Era filho legítimo de Messias Pereira de Sousa e Maria Pereira de Jesus. Teve oito irmãos consangüíneos: Ana Amélia, Ilidia, Raimundo, Pedro, Teresa, Mariano, Martinho e José.

Casou-se, religiosamente, no dia 17 de junho de 1954 com Maria Altina de Jesus, filha de Florentino Francisco Ferreira (Seu Fulô) e Dona Altina Rosa de Jesus. Foram testemunhas desse casamento religioso: Joaquim Alves Carneiro, Raquel Pereira Carneiro e Helena Afonso Carneiro (Dona Lala). O casamento civil aconteceu cinco anos depois, em 1959, na cidade de Tatuapé – São Paulo, e teve as seguintes testemunhas: Luís e Alvino José de Oliveira.

Desse matrimônio nasceram doze filhos, batizando-os todos com a letra M, inicial dos nomes: Marilene, Mariluce, Marleide (falecida), Messias, Mariano, Maurício, Marli, Marinalva, Marineide, Marcelo (falecido), Marcos Antônio e Marivaldo. Além disso, há dezesseis netos e três bisnetos.

Justiniano chegou a Tanque Novo em 1935, com quatro anos incompletos, acompanhado por seu primo Ivo Fagundes Cotrim (Capitão), filho de Artur e Guilhermina, montados a cavalo, a fim de fazer companhia à sua prima Rachel, que era professora e solteira. Capitão era pedreiro e fez algumas construções em Tanque Novo.

Justiniano foi criado pela sua prima e, também, pela sua tia Silvéria. No início, chamava sua prima Rachel de “Tia Quezinha”.

Seu primeiro amigo de infância foi Vavá (Osvaldo Marques da Silva), que lhe deu o primeiro brinquedo, produzido por ele mesmo: um carro de boi, em miniatura. Esse carrinho era de cano de milho, com as rodas de cacos de cabaça e os bois eram de sabugo.

Teve outros amigos, dentre os quais costumava citar os seguintes nomes: Juvêncio Carneiro Neto, Nélson Marques da Silva, Laudelino Marques da Silva (Nozinho), advogado mais tarde em Belo Horizonte, e ainda: Argesú, Zinho, Anísio, Pereira, Deca, Salatiel, Gérson Carneiro e Nenzinho.

Desde criança, gostava de cantar. Na mocidade, tocava violão, pandeiro, cantava e dançava. Cantava muito em representações de escolas, festas de casamento e aniversários.

Participou da Cavalhada Mourama de Tanque Novo, dramas e recitativos nos festejos de datas cívicas e religiosas. Gostava de passear de bicicleta ou a cavalo.

Freqüentou catecismo em Tanque Novo e em Caetité, onde fez novos amigos. Abelardo Lopes de Castro e Pedro Lopes de Castro (filhos de Seu Neném Coqueiro) eram seus companheiros preferidos, em Caetité.

Após o casamento de Rachel Pereira com Arlindo Alves Carneiro, Justiniano foi consagrado por Arlindo e passou a tratá-los da seguinte forma: Dindinha e Padrinho Doutor.

Fez o curso primário e depois trabalhou com seu padrinho, na agricultura.

O trabalho de agricultor, todavia, teve início na propriedade Pintado, do Sr Arquimimo Alves Carneiro. Este costumava lhe reservar uma parte do terreno, para plantio.

Na década de 40, participou da construção da barragem do açude de Tanque Novo e, também, da construção do campo de pouso de avião, executando tarefas auxiliares.

Trabalhou com seu padrinho Doutor, também, na farmácia. Vendia remédios, fazia curativos e aplicava injeções.

Aprendeu costurar com o Sr Jesus de Riacho de Santana. Todavia, seu verdadeiro mestre foi seu compadre e amigo João Francisco da Silva (João de Iraci).

Na década de 50, trabalhou como alfaiate no Junco (Maniaçu – distrito de Caetité), onde teve o apoio de Trasíbulo Frota e seus familiares; e também, na Boquira, contando com a ajuda de Deocleciano de Oliveira Marques (Deó) e sua esposa Carmerinda Carneiro Pimenta, filhos de Tanque Novo. Em São Paulo, especializou-se em confecção de ternos. Seu patrão, durante muito tempo foi Lourisvaldo Santos de Almeida (Louro), que era natural de Lençóis – Bahia. Voltou para Tanque Novo e criou a alfaiataria Tesoura do Norte.

Fez várias viagens a São Paulo, trabalhou em fábricas e chegou a fazer teste para ser cantor profissional, entretanto, não obteve êxito. Naquela época era muito difícil (hoje, é bem mais fácil). Todavia, teve o privilégio de fazer coro para algumas cantoras daquele tempo.

Na década de 60, chegou a participar da banda filarmônica de Tanque Novo.

No período de 1964 a 1990, cedeu seu quintal para a instalação de um pluviômetro, prestando serviços à SUDENE. Recebia gratificações periodicamente, mas, nada que significasse salário.

Foi locutor do serviço de alto-falante da Igreja Matriz de Tanque Novo, apresentando as Ave-Marias diariamente, às seis horas da tarde, e cantando a melodia da “Oração de São Francisco”.

Foi sapateiro, juiz de futebol amador (era corintiano doente), leiloeiro engraçado, durante as novenas de São Sebastião e também, de Coração de Maria, e participou muito das Festas de Reis. Na gestão do prefeito Élio Marques, foi funcionário da prefeitura, ocupando o cargo de fiscal municipal.

Tentou entrar no ramo da política, sendo candidato a vereador, mas, não teve sorte.

Seu forte, porém, era cantar e animar as campanhas políticas. Em 1970, interpretou uma marchinha feita pela sua mãe adotiva Raquel Pereira para a campanha vitoriosa do Sr Juvêncio Carneiro Neto. Essa marchinha parodiava o sucesso carnavalesco “A Lua é dos Namorados” e tinha um trecho que dizia assim: “E todos eles estão errados/ quem faz prefeito é o eleitorado./ Juvêncio, Juvêncio queremos te eleger;/ Juvêncio, Juvêncio, prefeito terás que ser...”

Nesse período, também, foi sócio e incentivador do Colégio Cenecista de Tanque Novo.

Já, em 1982, com uma composição sua, fez sucesso em outra campanha vitoriosa _ a de José Carlos Marques. Dessa vez, parodiando o Hino do Bahia, com o seguinte refrão: “Quem é o candidato da eleição? É José Carlos./ Quem é que carrega a multidão? É José Carlos./ Quem é que alegra os corações? É José Carlos./ Vamos votar em José, eleito sim, se Deus quiser.”

Depois da eleição de José Carlos Marques, Justiniano passou a ser o locutor oficial do carro de som e dos palanques políticos.

Com a melodia “A Praça” de Ronnie Von, ele fez a paródia em prol da inauguração do BANEB (Banco do Estado da Bahia), em Tanque Novo. Contudo, seu destaque maior foi ter composto o hino oficial de Tanque Novo, que está na Lei Orgânica do Município. É uma letra simples, mas, que demonstra todo seu amor e toda sua paixão por Tanque Novo.

Em 26 de dezembro de 1993, sofreu um derrame cerebral que lhe deixou paralisado o lado esquerdo do corpo. Isso, entretanto não fez com que ele perdesse o amor pela vida. Pelo contrário, ficou mais solidário. Mesmo andando em cadeira de rodas, marcava presença nas missas, casamentos, ou velórios de amigos e conhecidos. Além disso, sempre passeava pelas ruas da cidade, cumprimentando todo mundo e apreciando o progresso do lugar.

Vale ressaltar, que sua primeira cadeira de rodas foi José Carlos Marques quem conseguiu, através do deputado Gedel Vieira. Essa cadeira comum necessitava sempre de um menino para guiá-lo pelas ruas. Depois, por intermédio do empresário Edvaldo Lopes Carneiro (Didi de Seu Celso), obteve uma cadeira motorizada que facilitava bastante, seus passeios pela cidade, andando sozinho.

Foi nesse período de martírio, que recebeu o título de “Cidadão Tanquenovense.”

Justiniano Pereira de Sousa faleceu no dia 10 de novembro de 2009. Foi um homem simples, cordial, batalhador, inteligente e vencedor. Soube criar uma família numerosa e, ainda por cima, deixou seu nome cravado na história de Tanque Novo.


Casa de Justiniano

Obs.: No momento desta foto, Justiniano estava em sua cadeira de rodas, atrás do poste.
Detalhe curioso: Esta foto foi tirada por Lucas (filho de Seu Deca), um dia antes do falecimento de Justiniano.


Pontos separados:

No dia do sepultamento de Justiniano, na missa de corpo presente, Aparecido fez a leitura de sua biografia; porém, iniciou com as seguintes expressões:

“Mãe! Foi o homem do carrinho quem fez o hino de Tanque Novo”.

Esta expressão, nós ouvimos no velório de Justiniano. Isto fez com que refletíssemos: muitas crianças e jovens imaginavam que ele tivesse nascido tetraplégico. Não sabiam que antes daquela pessoa franzina, fraca, quase indefesa, tivesse existido um homem forte, valente, temente a Deus e que tinha um vozeirão para cantar...

E concluiu com estas palavras:


Alguns trechos de suas canções preferidas condizem com este momento:

_ “Os anjinhos do céu, nesta hora, desceram à terra também;” cantando parabéns pra você, porque você voltou para o além...

_ “Lembranças, por que não foges de mim? Me ajude a arrancar do peito esta dor...”

_ “Saudade, palavra triste, quando se perde um grande amor...”

_ “Oi, leva eu, minha saudade!”

E o mais interessante, é que faleceu faltando apenas duas semanas para completar um ano de falecimento de sua querida Dindinha (Professora Raquel).

Antes de adoecer, sempre, no “Dia das Mães”, gostava de cantar uma canção de Agnaldo Timóteo, que diz tudo neste momento: “Mamãe, estou tão feliz, porque voltei pra você!”

A sua bênção, Dim! Vá em paz! Vá com Deus!



Justiniano em sua cadeira de rodas motorizada




Dim:

Para nós, você foi mais do que um irmão: foi um segundo pai. Por isso, nós o reverenciávamos, tomando a sua bênção.

“Morrer não é difícil; o difícil é a vida e o seu ofício.”

Apesar de todo seu sofrimento, você deixou sua marca na história de Tanque Novo.

Jesus disse: “Eu sou o caminho vivo e verdadeiro.” Portanto, vá em paz, com a consciência tranqüila do dever cumprido.

“Bondoso Deus, quanta alegria eu descobri na minha vida!

Caminhar contigo é sempre festa, é ver na noite a luz do dia.”

(Mensagem dos familiares de Arlindo Alves Carneiro e Raquel Pereira Carneiro)

“Deficiente é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive sem ter consciência de que é dono do seu destino.”

(Mário Quintana)





Veja o videoclipe do Hino de Tanque Novo _ clique abaixo:

Videoclipe do Hino